O Brasil registrou em agosto a abertura de 372.265 empregos com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e divulgação do Ministério do Trabalho e Previdência.

Segundo o Ministério do Trabalho, ao todo, o Brasil obteve em agosto deste ano 1.810.434 contratações e 1.438.169 demissões.

A geração de empregos formais em agosto de 2021 é o melhor resultado desde fevereiro deste ano, quando foram abertas 397.537 vagas. Comparado ao mesmo mês do ano anterior, o número obteve uma melhora, já que em agosto de 2020 foram criadas 242 mil vagas de emprego.

O acumulado do ano até agora (janeiro a agosto) conta com um saldo de contratações positivo, sendo mais de 2,2 milhões de vagas.

O economista Paulo Gala, mestre e doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, comentou sobre os números:

“A tendência aponta para uma recuperação importante. Um dado bastante alto, bem acima do que o mercado imaginava, o grande destaque foi o segmento de serviços, quase 180 mil vagas criadas neste setor. Importante lembrar que o Caged mede vagas formais de emprego com registro na carteira de trabalho. Então, essa é uma boa notícia.”

O setor de serviços foi um dos que mais criou postos de trabalho no cenário pós-pandemia, com mais de 180 mil vagas, comparado com os demais setores: comércio (77 mil), indústria (72 mil), construção (32 mil) e agricultura (9,2 mil).

“O setor de serviços é o que mais se recupera com o fim do lockdown. Afinal, a pandemia pegou em cheio os setores que dependiam de uma interação social e o setor de serviços obviamente sofreu muito com isso, pois afetou empreendimentos como os restaurantes, bares, turismo, hotéis, viagens internacionais e domésticas. Então, o que a gente tem visto com a reabertura da economia é uma retomada do emprego, especialmente, nesses setores que têm produtividade mais baixa e que são muito empregadores.”, aponta Paulo Gala.

É importante lembrar que o método de contabilização das vagas de emprego criadas no país pelo Caged obteve uma mudança no ano de 2020, então o efeito de comparação com os anos anteriores fica prejudicado, como avalia o economista:

“Houve uma mudança na metodologia no Caged a partir de 2020, que passou a computar o que vem registrado no eSocial e não no que se media antigamente através do registro formal da carteira de trabalho. Então, essa mudança de metodologia quebrou a comparação possível entre a antiga série do Caged e a nova série do Caged a partir de 2020. Não é possível comparar as vagas que se criavam e que se perdiam em 2015 até 2019, por exemplo, são bases incomparáveis.”

Paulo Gala complementa: “A base que ainda temos para comparar é a PNAD contínua que é uma pesquisa bem completa do IBGE, mais de milhares de entrevistas são feitas por amostragem em domicílio, o que nos dá uma medida mais precisa do mercado de trabalho. Ali também temos acesso à parte informal, não só à parte de carteira assinada.”

A PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) é realizada por meio de uma amostra de domicílios entrevistados, garantindo a representatividade dos resultados em todo o país. A cada trimestre, a pesquisa investiga em torno de 211.000 domicílios. Segundo o site do IBGE a PNAD Contínua “visa acompanhar as flutuações trimestrais e a evolução, no curto, médio e longo prazos, da força de trabalho, e outras informações necessárias para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País”.

Quando perguntado sobre os dados do desemprego, o economista comentou:

“Aliás, é com base na PNAD contínua que o IBGE divulga os dados de desemprego. Quando avaliamos esses dados há uma melhora, há uma queda no desemprego. O desemprego caiu para 14%. Mas no período pré-pandemia a taxa de desemprego era de 12%. Então, houve uma recuperação do PIB no pós-pandemia, pois o PIB já está no mesmo nível do período pré-pandemia, mas o emprego ainda não. Tem uma diferença de 2 milhões de empregos que ainda precisam ser recuperados. Então, o Caged mostra que há uma melhora, mas a gente precisa ver o dado que sai na PNAD contínua, agora no final do mês, que vai mostrar o dado atualizado do mercado de trabalho e do desemprego.”

Ao ser interrogado sobre as expectativas para o mercado de trabalho segundo o que aponta os dados, Paulo Gala finaliza:

“Tudo leva a crer que o cenário tem possibilidade de melhora nos próximos meses, por conta da reabertura do setor de serviços. O setor de serviços deve seguir criando bastante vagas de trabalho. Mesmo assim, 12% de desemprego ainda é um número muito elevado, estamos falando de 12 milhões de pessoas desempregadas, para não falar do subemprego e empregos precários que inclui as pessoas que trabalham recebendo menos do que gostariam e num volume (quantidade de horas) muito menor do que gostariam. Sem contar o desalento de pessoas que desistiram de procurar trabalho, porque não encontram e, portanto, estão fora dessa estatística de desemprego.”