A inflação oficial de 2021 fechou em 10,06%, quase o dobro do teto da meta (5,25%). A alta nos preços não é um fenômeno exclusivo no Brasil – nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a inflação média (5,8%) está no maior patamar em 25 anos. Os principais motivos são a alta no valor do barril do petróleo no mercado internacional, os preços elevados das commodities agrícolas e a falta de insumos em várias cadeias produtivas, reflexo dos diversos lockdowns durante a pandemia.

No caso brasileiro, houve uma agravante: a crise hídrica. Com baixo volume de chuvas no Centro-Sul, o governo teve de acionar usinas térmicas, que são mais caras e poluentes. O resultado foi um aumento no custo da energia para empresas e consumidores por meio de bandeiras tarifárias.

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Mas, será que apenas a crise hídrica explicaria o fato de a inflação no Brasil ser quase o dobro da registrada nos países desenvolvidos? Claro que não! Nós tivemos uma alta absurda do dólar nos últimos meses que foi fruto do risco fiscal do Brasil. Enquanto o Congresso Nacional postergava os debates sobre a polêmica PEC dos Precatórios, a imagem do País ia se deteriorando no exterior. A cotação dólar subia no Brasil apesar da alta das exportações e do recorde histórico da balança comercial, num contexto em que a política mais uma vez atrapalhou a economia.

Com uma economia muito indexada e uma memória inflacionária latente, o repasse do dólar mais caro para produtos e serviços foi imediato, dificultando ainda mais a tarefa do Banco Central. Aliás, é importante salientar que o remédio amargo dos juros tem pouca eficácia contra uma inflação de oferta. Meu receio é que o Banco Central exagere no aperto monetário em 2022 e jogue o País num processo recessivo, piorando o desemprego.

A verdade é que o mundo inteiro foi derrotado pela inflação num campeonato em que o Brasil perdeu de goleada.