“Gostaria de uma sociedade mais justa, menos corrupta, com menos hipocrisia e mais digna”. Se vivo e a procura de um lugar para morar, Albert Einstein, o autor da frase, certamente veria no Brasil a antítese do seu ideário de Nação. De 2018 para cá, o País promoveu um retrocesso histórico nos direitos sociais, ambientais e econômicos estabelecidos na Constituição de 1988 e reafirmados em 2015 quando assumiu o compromisso de seguir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Passados seis anos do pacto global, 82,8% das políticas para a evolução dos ODS no Brasil estão sob risco.

O diagnóstico alarmante foi atestado por 106 especialistas do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil no Relatório Luz 2021. “Estamos destruindo nossa capacidade de avançar na Agenda 2030 e, pior, indo contra a Constituição”, afirmou Alessandra Nilo, coordenadora-geral da Gestos, uma das entidades participantes do relatório. A situação tende a piorar, não só pela destruição de políticas públicas, como pelo apagão de dados que o governo está promovendo, o que impede saber onde o País está e no que melhorar.

Um dos aspectos mais críticos é, ironicamente, a questão ambiental. Considerado o mais megadiverso do mundo, o País está longe de cumprir o ODS-13 que prevê ações contra mudanças do clima. Para Rubens Born, integrante do relatório em nome da Fundação Esquel, o caminho que está sendo trilhado, “ainda que gravíssimo”, era previsível desde a campanha eleitoral do atual presidente da República. “Sua postura irresponsável perante o ambiente era notória, mas lamentavelmente parte dos retrocessos é referendada pelo Congresso Nacional”, afirmou.

Evidências não faltam. Um dia após Jair Bolsonaro prometer alinhamento ao Acordo de Paris na Cúpula do Clima (em abril), o orçamento do Meio Ambiente sofreu corte de R$ 240 milhões (24%). O resultado é o sucateamento de órgãos que deixam de fazer o que se espera. Nos dois primeiros anos do governo, a arrecadação de multas ambientais na Amazônia caiu 93%, a menor em 21 anos. E não é porque não há crimes a se coibir. Ao contrário. Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia apontam recorde de desmatamento nos últimos 11 meses com 8.381 km².

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“Estamos destruindo nossa capacidade de avançar na Agenda 2030 e, pior, indo contra a Constituição” Alessandra Nilo, coordenadora-geral da Gestos.

Não é só na sustentabilidade, porém, que as falhas são graves. Nas demais 16 ODS não há uma meta sequer com avanço satisfatório neste ano. De acordo com o estudo, do total das metas 55% estão em retrocesso; 16%, estagnadas; 12%, ameaçadas; 8%, em progresso insuficiente; e 9% não dispõem de informação. Para Claudio Fernandes, da Gestos, o princípio do problema está na governança federal. “O problema é que acreditamos que o Estado gasta demais e limitamos o orçamento a um teto de gastos”, afirmou. No fim, segundo Fernandes, sofrem educação, cultura e saúde que seriam o pilar de construção de uma sociedade justa.

CONTRAPONTO Diante da leniência do governo, a iniciativa privada se movimenta para avançar na Agenda. Caso da Omega Energia que mesmo tendo como core do negócio a ODS-7 – garantir acesso à energia renovável –, enxergou na metodologia da ONU uma ferramenta de governança importante, como falou à DINHEIRO Andrea Sztajn, diretora Financeira e de Relações com Investidores da empresa. “A ONU colocou de maneira objetiva as urgências do mundo alinhando as frentes de ação”, afirmou. Hoje a empresa direciona 11 dos 17 ODS. Dentre elas, educação e saúde. No primeiro pilar, a estratégia foi criar e gerir centros de educação de base. Somando as escolas do Piauí e Maranhão, o projeto impactou mais de 1,3 mil estudantes desde 2019. Em saúde, investiu R$ 5,2 milhões em ações de mitigação dos efeitos da pandemia.

Criada em 2015, a Agenda 2030 não faz menção direta à tecnologia, mas vários dos objetivos só irão evoluir com acesso digital. Caso da erradicação da pobreza (ODS-1) e educação de qualidade (ODS-4), entre outros. Ciente de que oferece tecnologia para a transformação, a Vivo entendeu que precisava ir além e incluir as ODS dentro de seu plano estratégico. Assim, explica Joanes Ferreira Ribas, executiva de Sustentabilidade, 60 indicadores da empresa são ligados aos compromissos estabelecidos pela ONU. Destes, dois compõem o bônus dos executivos desde 2019: igualdade de gênero e mudanças climáticas.

“Traçamos um plano de prioridades construído a partir dos pontos que nossos stakeholders indicaram como os mais relevantes”, disse. Assim, em 2018 a Vivo Brasil antecipou em 12 anos a meta de usar 100% energia renovável e em 2019 se tornou neutra em carbono. Diagnóstico, planejamento, ação, mensuração e evolução. O caminho está dado, só não copia quem não quer.