As relações comerciais entre Brasil e Portugal ainda são pequenas na comparação com outros países. Para o diretor do comitê de Trade Finance e comercio internacional da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira e coordenador do comitê de inovação da entidade, José Manuel Diogo, há espaço para aumentar essas negociações. “O Brasil pode usar o mercado de Portugal como facilitador para entrar na União Europeia”, diz.

Hoje, os portugueses importam do Brasil menos de 3% do total das suas compras no exterior e apenas 0,8% das exportações brasileiras têm como destino Portugal. No ranking geral, Portugal ocupa o 31º lugar dos parceiros de exportação brasileiros, com um saldo de US$ 951,6 milhões (R$ 4,8 bilhões no câmbio de hoje, 30/7).

No entanto, o Brasil pode aumentar suas exportações para Portugal em até 74%, sem realizar nenhuma mudança estrutural, diz o diretor. Diogo explica que o produtor brasileiro pode utilizar pontos em comum – como a mesma língua e a história – para se inserir no mercado português.

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Produtos como frutas frescas têm grande potencial para crescimento. No início de 2021, existiam no Brasil mais de 27 mil empresas exportadoras. Destas, apenas 345 empresas importaram diretamente para Portugal no último ano, com um volume de compras de US$ 1,6 milhões (R$ 8,1 milhão), segundo dados da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. 

“O comerciante brasileiro tem que parar de pensar em Portugal como apenas um país de exportação e entender que melhorar essas relações pode ser a entrada para a Europa. Com acordos mais estruturados, é possível emitir a Certificação Europeia para os produtos brasileiros. Somente com esse documento, o produto já ganha uma valorização 4 vezes maior”, explica o diretor.

Segundo Diogo, a relação econômica entre o Brasil e Portugal pode ser otimizada e, como em todas os tipos de comércio internacional, podem ser introduzidos melhoramentos. Outro ponto que pode facilitar a entrada dos produtos brasileiros no mercado europeu é a atualização dos sistemas de exportação, que ainda estão muito ligados ao papel, para um meio digital, mas esse é um processo global que vai impactar todo o comércio internacional.

Produtos com potencial

Goiabas, mangas, mamões, soja e algodão são os produtos do agronegócio com maior potencial de expansão nas exportações brasileiras para Portugal. No setor de serviços, as tecnologias de informação estão na linha da frente, de acordo com um estudo realizado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, por solicitação da APEX-BRASIL.

Ainda sobre as frutas, o estudo indicou uma demanda recente pelo açaí em Portugal. A fruta tem sido consumida com mais frequência no país. No setor dos cafés, a análise dos índices de Potencial de Expansão de Exportação Bruto (PEEB) indica o café torrado, não descafeinado, como o produto com mais potencial.

No setor de espumante, apesar de o mercado ainda ser pequeno no Brasil, ele apresenta o maior potencial de crescimento e é responsável por 89,4% das importações que Portugal faz do Brasil no setor dos vinhos. Já na moda, o vestuário de banho, com biquínis e sungas, e as calcinhas de malha são os itens mais procurados pelos portugueses.

No comércio eletrônico, em 2020 o Brasil exportou mais serviços para Portugal do que nos quatro anos anteriores. Um aumento de mais de 85%, sendo os serviços de tecnologia da informação os grandes responsáveis por esta mudança. A pesquisa destaca cinco fatores que contribuíram para esse aumento: competência técnica, vantagem cambial, desoneração dos tributos à exportação, ausência de custos com logística e a língua comum.

Novos estudos

De acordo com Diogo, a tecnologia deste estudo pode ser aplicada em qualquer setor produtivo. A metodologia do estudo, desenvolvida para a identificação de setores e produtos com maior potencial de exportação do Brasil para Portugal, também despertou o interesse de outras instituições. O objetivo da Câmara é ampliar a pesquisa e criar uma plataforma que possa ajudar o investidor na tomada de decisões sobre os produtos com maior potencial de exportação.

A Câmara liberou ainda, com exclusividade para o leitor da Dinheiro, o estudo na íntegra. Solicite aqui.