Sobrou para o Brasil. Estava até demorando. O incontrolável presidente americano Donald Trump, durante entrevista sobre o Nafta – o acordo de livre comércio que reúne EUA, Canadá e México – resolveu criticar duramente a relação com o Brasil. Saiu de bate-pronto. Sem sequer ser indagado a respeito. E surpreendeu autoridades daqui e do mundo. Para ele, o País trata empresas americanas de forma injusta. Não desceu aos detalhes do que avalia como indevido ou mesmo desigual nessa parceria. Limitou-se apenas a alegar que várias corporações nativas se queixam do que consideram “um dos mais duros” mercados do mundo para atuar. Se era mera provocação ou galhofa do fanfarrão Trump, ninguém ainda conseguiu confirmar.

Pela condição estratégica na negociação dos contratos e pelo posto que ocupa, as palavras em forma de ataque desse senhor tem o poder de destruição de uma bomba de nitrogênio para quem esta as recebe. O espantoso é perceber que, pelos números da balança, a relação segue amplamente favorável aos americanos. Existe um superávit da ordem de US$ 90 bilhões nos últimos dez anos. E isso considerando apenas a área de bens, excluindo serviços. Trump, mesmo assim, enxerga de outra forma. No seu entender, o Brasil cobra o que quer, entrega produtos que em muitos casos requer ressalvas e não presta satisfação sobre o por que desse tratamento.

Como sempre, ele exagera na dose. Não é, vale frisar, uma perseguição específica. Ele também reserva a mesma impressão sobre os acordos com a Índia. Talvez apertar os eixos com os emergentes seja o seu objetivo. Há algum tempo, praticamente desde que assumiu, ele mirou o México com uma série de ameaças aos negócios em curso. Veio o Canadá e agora Brasil e Índia. Dezenas de entidades multilaterais estão fazendo apelo para “salvar” o comércio internacional que vem sendo dinamitado por Trump. O Banco Mundial , O FMI e mesmo a OMC passaram a pedir união dos países-membros e a discussão de novas regras globais como forma de atenuar os conflitos.

Esquecem de apontar que os problemas estão mais vinculados ao presidente americano do que propriamente a questões estruturais. Empresários daqui e de fora enxergam como muito difíceis as negociações com os EUA no plano comercial – especialmente depois que o dublê de empresário e político tomou posse. Para eles, só há uma saída ou caminho a seguir nessa zona de confronto pavimentada pelo presidente: encarar juntos a pressão. Trump começa qualquer conversa primeiro colocando o pé na porta. Só depois senta para baixar o tom. A isso o Brasil não estava acostumado e terá agora de encarar para manter firme sua expansão de acordos com os EUA.

(Nota publicada na Edição 1090 da Revista Dinheiro)