O Brasil não vai conseguir se desenvolver e ter ganhos de produtividade sem investimento em tecnologia e inovação, disse o superintendente da área de indústria de base do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Julio Ramundo, durante o Fórum Estadão Brasil Competitivo, que discute nesta terça-feira, 6, formas de se acelerar a inovação no País. O tema de ciência, tecnologia e inovação, porém, não tem feito parte do debate nacional e é preciso que faça parte, ressaltou ele.

“Não vai haver desenvolvimento do Brasil sem haver desenvolvimento tecnológico e inovação. Não vai ter ganho de produtividade sem difusão do progresso técnico pela base das empresas brasileiras”, afirmou Ramundo durante o evento. “O tema precisa emergir, fazer parte do dia a dia, é preciso dar visibilidade”, disse ele. “O debate econômico do Brasil só fala em macroeconomia. E a economia real?”, questionou o superintendente, ressaltando que é preciso ter uma agenda de longo prazo para a Ciência e Tecnologia.

O executivo do BNDES ressaltou que o banco de desenvolvimento está mudando seu papel e passa por um momento de “reorientação e transformação”, mas segue com o objetivo de contribuir de “maneira decisiva” para transformações que ocorrem na sociedade brasileira. Ele ressaltou que o BNDES foi criado com o foco no investimento em infraestrutura, mas a partir dos anos 90 começou a aportar recursos também em inovação, um investimento mais intangível. “Essa agenda foi ganhando corpo e o tema está absolutamente associado à agenda do BNDES”, disse ele.

Em meados dos anos 2000, a instituição tinha ao redor de R$ 500 milhões, ou 0,5% do orçamento para projetos de inovação, número que foi subindo e saltou para R$ 6 bilhões em 2015. “O banco hoje é o maior investidor institucional para empresas de base tecnológica”, disse ele, ressaltando que o BNDES tem uma série de fundos voltadas para companhias nascentes.

Entre as estratégias atuais, Ramundo mencionou que o BNDES tem uma iniciativa que vai apoiar empresas dentro das cerca de 100 incubadoras que existem no Brasil. Outra iniciativa é um fundo de “coinvestimento anjo”. São projetos pequenos, com aportes da ordem de R$ 200 mil a R$ 500 mil e o BNDES vai colocar o mesmo recurso que o investidor anjo aportar. Esse fundo já recebeu 14 propostas e prevê rodadas subsequentes de investimento.

“Estamos colocando em marcha mudanças em novos instrumentos para dar vazão ao empreendedorismo tecnológico no Brasil”, disse o superintendente do BNDES. Ele destacou que em algumas áreas, como a biotecnologia, o Brasil está “vocacionado” a ter sucesso, mas é preciso construir agendas e rotas de longo prazo e que sejam resistentes. “Inovar dá resultados e não é caro investir”, disse ele, destacando que os resultados se difundem por vários ramos da economia.

Durante o evento, a diretora executiva do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Industrial Performance Center (IPC), Elizabeth Reynolds, ressaltou que as eleições deste ano e a retomada da economia oferecem um oportunidade perfeita para se falar da agenda de ciência e tecnologia do Brasil e formas de avançar no tema. “É um momento crítico para se mudar a trajetória e esperamos que isso seja parte do debate eleitoral”, disse ela.