O Comitê de Política Monetária abriu a ata da reunião que definiu a continuidade da taxa básica de juros da economia no Brasil, com sinalização de baixa em agosto. Além da movimentação [ou estagnação] da Selic em 13,75%, o mês de junho foi resolutivo aos outros bancos centrais que também se reuniram para decidir os rumos dos juros de cada país.

+ Em ata, Copom unanimemente avalia que flexibilização de aperto exige confiança em desinflação

O ritmo de alta da taxa também acompanha países da Europa e Ásia, mostrando os caminhos das maiores economias do mundo: apesar do ciclo de altas, os EUA mantém juros na faixa entre 5,00% e 5,25%; na China, houve queda de 0,10 pontos base, ficando em 3,55%; já o BCE (Banco Central Europeu ) elevou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 3,25% ao ano. 

Diante de tais decisões, há relação entre as taxas de juros no mundo, já que os bancos centrais definem tais taxas a priori, “obviamente mirando na política monetária local e a o controle da sua inflação”, explica Walter Franco, professor de Macroeconomia no Ibmec SP.

A lógica de algumas dessas instituições monetárias é a mesma de Roberto Campos Neto, presidente do Bacen (Banco Central do Brasil), que acredita na máxima “elevar os juros para conter a inflação”. O integrante do Conselho do Banco Central Europeu, Gediminas Simkus, afirmou que pelo menos mais uma alta de juros é necessária para que a inflação retorne à meta de 2% na zona do euro, por exemplo.

Segundo os dados do Money You de ranking mundial de juros reais, o Brasil mantém a 1ª colocação, em qualquer cenário, seja de corte de juros de 25 ou alta de 25 bp. Veja aqui a lista completa.

Os juros pós-Covid

“De uma forma ou de outra, há uma relação entre essas taxas de juros mundiais porque obviamente elas não servem só como instrumento de política monetária para conter, por exemplo, a inflação, mas acaba também mobilizando e modificando os fluxos de capitais no mundo. Então, muitas vezes, uma subida de taxa de juros muito significativa, ou mesmo uma descida, atrai ou afasta os investimentos por exemplo de curto prazo, que buscam obter vantagens financeiras, aplicações, com esses movimentos”, acrescenta Franco. 

Ricardo Meirelles de Faria, professor da EAESP-FGV e economista da Linus Galena Consultoria Econômica, recorda os efeitos da pandemia do coronavírus, evento extraordinário que afetou a política econômica indistintamente ao redor do globo. Para ele, há uma relação dos movimentos da política monetária dos países devido ao efeito causal único que foi a pandemia.

“Entretanto, o timing do movimento das políticas monetárias é atualmente distinto. A primeira reação comum dos bancos centrais (conjuntamente com os Tesouros Nacionais, via política fiscal) foi uma injeção forte de liquidez no mercado que correspondeu a uma redução drástica das taxas de juros”, explica. Uma redução na oferta de produtos e retratação na economia favoreceram o cenário de altas taxas, acreditam especialistas. 

O economista também recorda que o Brasil foi um dos primeiros a subir as taxas de juros, já em 2021, “e o fez de forma bastante rápida e forte”. Já o FED, banco norte-americano, demorou mais para reagir, logicamente pelo impacto muito mais sensível globalmente de variações das suas taxas de juros.

“A definição da taxa de juros em cada país é basicamente voltada a questão da administração da inflação interna e do financiamento, certamente também da dívida interna, do seu déficit, então muitas vezes a definição de uma taxa de juros está conectada também com a necessidade de atração de capitais por parte do governo para financiamento da dívida pública”, adiciona o professor do Ibmec.

No caso dos EUA, ele adiciona, pesa a busca de controle da inflação americana e garantia da rolagem da dívida interna, ‘mas acaba num segundo momento como fazer um movimento muito importante significativo no fluxo internacionais e capitais que vão aproveitar por exemplo numa subida de taxa os retornos garantidos’.

Efeito no Brasil

Faria explica que, pela importância da moeda norte-americana ao redor do globo, o custo do crédito norte-americano afeta todas as economias – e também o Brasil. “Esse efeito se dá em termos práticos através dos movimentos de arbitragem da paridade das taxas de juros que afetam as variações nas taxas de câmbio e, indiretamente, nas variações de preços dos bens importados que compõem as cestas de bens, por exemplo, do IPCA”, argumenta.

“Somos uma economia aberta, dinâmica, que exporta e importa para muitos países; temos um fluxo do comércio que vem se destacando nos últimos anos de forma significativa; é um dos grandes receptores de investimentos estrangeiro direto, e é um mercado emergente. Quando as taxas de juros nos mercados centrais – Europa, Estados Unidos, Japão – se movimentam muito, a relação com o Brasil é muito clara, porque vai muitas vezes sentir indiretamente esses movimentos lá fora”, diz Franco.

Um exemplo é quando os EUA aumentam muito a taxa de juros, “esse fluxo mais volátil de capital pode sair dos mercados emergentes e correr em direção aos títulos americanos – um movimento chamado de flight-to-quality”. “É muito natural o entendimento de que existe sim uma relação entre essas taxas internacionais e o que acontece na economia brasileira porque é uma economia aberta e, portanto, esses fluxo de capitais terão comportamento em linha com essas diferenças entre juros, entre os países e por parte dos investidores”, finaliza o professor.