Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – A área tratada com defensivos agrícolas cresceu 12,3% no segundo trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2020, para 175,2 milhões de hectares, em meio a adversidades climáticas que atingiram o milho segunda safra, disse nesta quarta-feira o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).

A “área tratada” representa a multiplicação de área cultivada pela quantidade de aplicações realizadas, o que, segundo a entidade, é a metodologia que melhor reflete o uso efetivo de agroquímicos pelos agricultores.

“Aumentos nas áreas cultivadas, atrasos no plantio que seria realizado no primeiro trimestre, problemas climáticos típicos do segundo trimestre –como a seca– e também a pressão feita por pragas e doenças no campo contribuíram para o aumento expressivo da área tratada com defensivos agrícolas”, afirmou à Reuters o presidente do sindicato, Júlio Borges Garcia.

Segundo a análise, o milho elevou participação no total de área tratada, de 15% para 28%, no comparativo anual. As demais culturas representativas para o setor no período, como algodão, feijão e cana-de-açúcar, tiveram suas parcelas reduzidas.

Garcia ressaltou que os insetos foram grandes “vilões”, assim como as plantas daninhas, gerando uma competição por nutrientes e água, que são mais escassos nesse trimestre.

O valor do mercado recuou 2,8% no segundo trimestre, ante igual período de 2020, para 1,380 bilhão de dólares, pressionado pela desvalorização cambial. Em reais, o total subiu de 6,432 bilhões para 7,309 bilhões na comparação com abril a junho de 2020.

“Somente no 2º trimestre deste ano, a perda cambial foi de 14,5%, com o dólar médio em 5,02 reais em junho de 2021. Além disso, a indústria continua enfrentando forte alta nos preços de matérias-primas e embalagens, bem como aumento no custo logístico – tanto nacional quanto internacional.”

No primeiro semestre, os agricultores do Brasil trataram 748,6 milhões de hectares com defensivos químicos, aumento de 9,4% sobre igual período do ano anterior, informou o Sindiveg.

Em volume, houve elevação de 7,6% no total de produtos utilizados de janeiro a junho, para 472.436 toneladas.

Também pressionado pela diferença cambial, o valor de mercado diminuiu 7,9% no período, passando para 5,308 bilhões de dólares –a soja representou 31% e os inseticidas 37%. Já na moeda brasileira, houve alta de 13%, para 28,462 bilhões de reais.

PRÓXIMAS SAFRAS E RISCOS

Para a safra 2021/22, que será plantada a partir de setembro, o presidente do Sindiveg estima que 95% dos produtos já estejam negociados.

O faturamento desses produtos deve começar neste mês, quando se aceleram as entregas dos insumos aos distribuidores e às cooperativas.

Para a safra de 2022/23, no entanto, ele disse que ainda é difícil estimar como será o movimento do mercado, mas há temores relacionados à oferta.

“Já é possível adiantar que a principal preocupação para o período será a possibilidade de falta de insumos, tendo em vista a imprevisibilidade do cenário da China”, alertou Garcia.

Ele afirmou que alguns fornecedores não estão honrando entregas anteriormente negociadas e os motivos são diversos, como a crise hídrica que afetou a produção de energia local, um tufão e as tempestades que atingiram recentemente os chineses.

“O modo de reação que a China terá será fundamental para avaliar a situação dos próximos meses. Entretanto, uma coisa é certa. Os produtos terão impacto no custo, direta ou indiretamente. Nossa projeção é de que haja aumento de preço em 60% dos insumos neste ano e no próximo.”

No último balanço divulgado pelo sindicato, em maio, a indústria já havia sinalizado que estava em alerta pela restrição de matéria-prima para produção de agroquímicos.

(Por Nayara Figueiredo)

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