O Brasil é o quarto país que mais produz plástico no mundo, com 11,355 milhões de toneladas, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia, segundo levantamento do WWF (Fundo Mundial para a Natureza) com números do Banco Mundial. O estudo analisou a relação com o plástico em mais de 200 países, e apontou que o brasileiro produz, em média, aproximadamente um quilo de lixo plástico a cada semana. E entre os dez maiores produtores, o Brasil é o que tem o menor índice de reciclagem (1,28%), bem abaixo da média global, que é de 9%.

O WWF cita que, no Brasil, segundo dados do Banco Mundial, mais de 2,4 milhões de toneladas do material são descartadas de forma irregular, sem qualquer tipo de tratamento, em lixões a céu aberto. Outros 7,7 milhões de toneladas são destinadas a aterros sanitários. E mais de 1 milhão de toneladas sequer são recolhidas pelos sistemas de coleta.

“É hora de mudar a maneira como enxergamos o problema: há um vazamento enorme de plástico que polui a natureza e ameaça a vida. O próximo passo para que haja soluções concretas é trabalharmos juntos por meio de marcos legais que convoquem à ação os responsáveis pelo lixo gerado. Só assim haverá mudanças urgentes na cadeia de produção de tudo o que consumimos”, afirma Mauricio Voivodic, Diretor Executivo do WWF-Brasil.

Com o estudo “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização”, o WWF pretende reforçar a urgência de um acordo global para conter a poluição por plásticos. A proposta será votada na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-4), que será realizada em Nairóbi, no Quênia, de 11 a 15 de março.

Segundo o WWF, aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foram criados após 2000. Ainda assim, 75% de todo o plástico já produzido já foi descartado e somente 20% dos resíduos são recolhidos para a reciclagem. Estima-se que um terço de todo plástico descartado tenha se inserido na natureza como poluição terrestre, de água doce ou marinha.

A instituição afirma que a má gestão de resíduos é resultado direto de uma infraestrutura de gestão de resíduos subdesenvolvida. “A eficácia do desempenho da gestão de resíduos plásticos está relacionada ao nível de rendimento de uma nação. Este é um grande desafio em países de baixa e média renda, resultando em um baixo índice de coleta e altos índices de despejo a céu aberto e em aterros não regulamentados.”

O WWF diz que a indústria de reciclagem hoje não é lucrativa e não tem capacidade de chegar à larga escala, com problemas na coleta e por fatores como lixo contaminado ou misturado. “Contudo, a reciclagem em larga escala é uma possibilidade real através da melhoria das questões de qualidade decorrentes de altos níveis de resíduos plásticos mistos ou contaminados, e aumentando a economia de escala.”

Mas se nada for feito, alerta o WWF, a poluição plástica no planeta pode dobrar até 2030, sendo os oceanos os mais visivelmente afetados. Segundo o estudo do WWF, mais de 104 milhões de toneladas de plástico irão poluir nossos ecossistemas até 2030 se nenhuma mudança acontecer na nossa relação com o material.

Para melhorar essa relação, o WWF propõe que o produtor considere no preço do plástico virgem seu impacto negativo na natureza e para a sociedade, o que incentivaria o emprego de materiais alternativos e reutilizados, e que a responsabilidade pelo descarte correto seja colocada em empresas produtoras de itens de plástico e não apenas no consumidor final. O WWF ainda pede que os governos estabeleçam metas nacionais para redução, reciclagem e controle do plástico e que elaborem legislação eficiente para responsabilidade estendida do produtor.