Por Daniela Desantis

(Reuters) – A Copa América começará finalmente no domingo em Brasília depois de superar obstáculos inumeráveis e provocar descontentamento em jogadores, técnicos e patrocinadores devido à mudança de sede de última hora.

O torneio de seleções mais importante da América do Sul terá início com o jogo entre a seleção anfitriã e a Venezuela no Estádio Mané Garrincha de Brasília sem público nas arquibancadas –e muitos considerarão quase um milagre ver a bola rolar.

A competição seria disputada pela primeira vez em duas sedes, Argentina e Colômbia, com um formato inovador de dois grupos de seis equipes que incluiriam os convidados Austrália e Catar, mas a pandemia de coronavírus mudou todos os planos.

A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) se viu obrigada a adiar o torneio em um ano, impossibilitando os convidados de comparecer. E quando faltava menos de um mês para o pontapé inicial, a Colômbia perdeu o posto de sede devido ao temor de que os grandes protestos contra o governo impedissem sua realização.

A Argentina foi descartada 10 dias depois em meio a uma onda forte de contágios, e a Conmebol surpreendeu a todos ao tomar a decisão de realizar o campeonato no Brasil, uma das nações mais afetadas pelo coronavírus em todo o mundo.

Com quase meio milhão de mortes e milhares morrendo a cada semana no Brasil, as críticas não demoraram.

A seleção argentina decidiu treinar em Buenos Aires e viajar antes de cada partida para diminuir os riscos. O técnico Lionel Scaloni disse que disputar o torneio no Brasil é “preocupante e alarmante”, mas seu colega do Peru, Ricardo Gareca, considerou a designação “injusta”.

Os jogadores da seleção brasileira questionaram em um comunicado a decisão de mudar de sede tão subitamente.

“Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil”, afirmaram. “Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira.”

O atacante uruguaio Luis Suárez engrossou o coro dos descontentes. “Estamos em uma situação difícil em nível mundial, chama a atenção que vá haver jogo… às vezes se deveria dar prioridade à saúde do ser humano, e não a um torneio de futebol”, declarou ele dias atrás.

A Conmebol se negou a postergar o torneio mais uma vez devido a seus compromissos econômicos e pelo que qualificou como dificuldades de calendário, mas as críticas a fizeram perder também o apoio de patrocinadores importantes, como a Mastercard e as empresas de bebidas Ambev e Diageo, que retiraram sus marcas do evento.

(Por Daniela Desantis em Assunção; reportagem adicional de Andrew Downie)

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