Por Ana Mano e Hugh Bronstein

SÃO PAULO (Reuters) – A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o órgão brasileiro responsável por avaliar transgênicos, aprovou por unanimidade nesta quinta-feira importações de farinha de trigo argentino produzida a partir de cereal geneticamente modificado, em uma decisão inédita no mundo que gerou protestos da indústria nacional.

A aprovação do produto de trigo transgênico da Argentina, tolerante à seca e a um herbicida amplamente aplicado, ocorreu após pedido da Tropical Melhoramento Genético, parceira da argentina Bioceres <BIOX.BA>.

Temendo impacto nos negócios e a reação dos consumidores, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) disse nesta quinta-feira que avalia medida cautelar para suspender a implementação da decisão da CTNBio.

Anteriormente, a indústria brasileira ameaçou boicotar o cereal do país vizinho, em caso de uma decisão da CTNBio favorável ao trigo transgênico. O Brasil, um importador líquido do cereal, é o principal comprador do produto da Argentina.

“A decisão foi de uma agência técnica, mas é importante ver o que o mercado brasileiro quer. Parece que os consumidores no Brasil não querem trigo transgênico”, disse Gustavo Idigoras, chefe da Câmara de Exportadores de Grãos da Argentina (CIARA-CEC).

Cerca de 55 mil hectares na Argentina foram plantados com trigo transgênico em caráter experimental, de acordo com divulgações da empresa.

No caso de o Brasil colocar barreiras ao cereal da Argentina, os Estados Unidos seriam os maiores beneficiados.

“Isso pode significar um aumento na demanda por trigo dos EUA se eles rejeitarem comprá-lo por temer a reação do consumidor”, disse Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da StoneX.

“Em última análise, tudo se resume ao consumidor. O que o consumidor está disposto a aceitar?”

A U.S. Wheat Associates, que promove as exportações de trigo dos EUA, não fez comentários imediatos.

Apesar das reações da Abitrigo, a Bioceres não começará imediatamente a comercializar seu trigo transgênico no país sul-americano, disse uma fonte da empresa que pediu para não ser identificada.

A Argentina aprovou no final do ano passado o trigo HB4 da Bioceres, mas destacou que ele só poderia ser vendido aos produtores argentinos quando a variedade fosse aprovada pelo Brasil, destino de metade das exportações do grão argentino.

A fonte da Bioceres observou que a empresa buscará a aprovação de outros destinos alimentares importantes antes de lançar comercialmente o produto, e que continuará a produzir sementes de grãos sob condições restritas.

(Reportagem de Ana Mano, Hugh Bronstein e Maximilian Heath em Buenos Aires; Mark Weinraub e Julie Ingwersen em Chicago)

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