Diante de uma plateia repleta de investidores e executivos, o co-fundador da Natura, Pedro Passos, levantou, no Fórum de Investimentos Brasil, em São Paulo, um tema caro à maior parte dos empresários brasileiros: o grau de abertura da economia nacional. Para ele, uma maior interação com o exterior deve ser tópico prioritário na pauta de desenvolvimento nacional, sob o risco de as companhias brasileiras ficarem presas na “zona de conforto”.  A dúvida é quando haverá espaço para tratar do assunto, já que todo esforço agora está centrado na aprovação das reformas. Depois de participar de uma mesa redonda sobre inovação e tecnologia no evento organizado pelo governo federal, na quarta-feira 31, ele falou à DINHEIRO suas impressões sobre a crise política.

O País estava falando em retomada com um pouco mais de firmeza, mas no meio do caminho veio uma nova crise política. Como o senhor vê a economia para o resto do ano? Há risco de contágio?
Eu espero que a crise se resolva no tempo possível, dentro da Constituição, mas o mais rapidamente possível. Esse é o nosso desejo, para que não haja esse contágio. Os fundamentos da economia estão bons, algumas coisas começavam a reagir, e eu espero que a crise não se prolongue a ponto de postergar investimentos, porque a taxa de desemprego continua aumentando. É urgente que a gente mantenha a trilha na direção que estávamos esperando. No momento de crise profunda, pode haver um adiamento de investimentos e isso pode prejudicar a economia.

As reformas perdem força?
É difícil fazer uma análise. O governo tem feito todo um esforço para manter a agenda de reformas. Existe um apoio de muitos agentes econômicos no sentido de que elas ocorram, mas o mundo político precisa dizer o que vai fazer.

O senhor vê risco de perdermos essa agenda?
Eu espero que não, porque boa parte da sociedade e dos agentes políticos estão a favor das reformas. Acho que já está virando quase um consenso, mas elas podem ser atrasadas em função do ambiente político.

Quando poderemos falar mais sobre economia e menos sobre política?
É uma boa pergunta. Estamos torcendo para que possamos falar de outras coisas da economia e trabalhar em cima de qual é a agenda de futuro do País. O Brasil ainda está muito preso na agenda de curto prazo, apagando incêndio. Espero que, saneada a crise política, haja uma boa discussão no ano de 2018 para discutir qual é o projeto efetivamente do Brasil.

O presidente corre risco nesse momento?
Viver é perigoso, não é?

(Nota publicada na Edição 1021 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Gabriel Baldocchi, Márcio Kroehn e Moacir Drska)