A psicologia reversa, usada comumente com crianças, funciona bem com Jair Bolsonaro. O truque é velho. Para obter alguma coisa, basta falar que ele não deveria fazer. A mais recente prova disso envolve André Brandão, presidente do Banco do Brasil que teve sua cabeça pedida por parlamentares na última semana. A motivação para que congressistas pedissem a mudança no comando do banco estatal ainda é turva. Alguns dizem que envolve a negociação do cargo com os políticos que apoiaram o Bolsonaro na eleição das Casas. Outros afirmam que, seguindo a lógica de alterar o corpo diretivo da Petrobras, o natural seria revisar outras estatais.

Fontes do Ministério da Economia consultadas pela reportagem afirmaram não haver nenhuma movimentação no sentido de trocar o comando do Banco do Brasil e, mais do que isso, há uma nítida aproximação de Brandão com Jair Bolsonaro. Nas últimas semanas, o presidente do Banco do Brasil circulou por Brasília em uma tentativa de azeitar suas relações no meio político. Mas isso não garante sua permanência. O centrão já teria até um nome para suceder Brandão. Como o assunto esfriou, a identidade do apadrinhado foi preservada. Ex-assessor da bancada do DEM na Câmara, o consultor político Frederico Ricardo Gomes afirmou que a movimentação dos parlamentares tem sido intensa. Não é a primeira vez que Brandão fica na berlinda. Em janeiro, ele foi alvo de questionamentos diretos do presidente acerca do plano de fechamento de agências por todo o País. “Se Bolsonaro quisesse mudar o comando, o faria naquele momento. Agora perdeu o timing”, disse Gomes.

R$ 10,9 BI foi a perda de valor de mercado do Banco do Brasil na segunda (22).

NA MIRA Toda a especulação começou depois de Bolsonaro ter afirmado que “meteria a mão” no comando de outras estatais caso tivesse algum indício de “sujeira”, segundo suas palavras. Além de Brandão, o presidente da Casa da Moeda, Hugo Cavalcante Nogueira, também foi citado como potencial alvo. Em nota, o Banco do Brasil confirmou não haver nenhum tipo de indicativo no sentido de mudar a composição de seu corpo diretivo. O posicionamento se deu após uma queda de 11,65% nas ações do banco na segunda-feira (22), ante ao pregão de sexta-feira (19%). Em valor de mercado, a empresa perdeu R$ 10,9 bilhões. Até às 14h da quinta-feira (25), as ações do banco já haviam recuperado parte da queda (+7%), mas seguiram defasadas em 5% sobre o resultado obtido na sexta-feira anterior às notícias.

Com a bolsa reagindo fortemente às parvoíces do presidente, vale lembrar que, até agora, o melhor caminho para descobrir o próximo passo de Bolsonaro é se questionar o que pediram para o presidente não fazer.