Depois da procelosa tempestade, noturna sombra e sibilante vento, traz a manhã serena claridade, esperança de porto e salvamento”, escreveu Luís de Camões no Canto IV de Os Lusíadas. A imagem do poeta português pode servir ao Bradesco, face que depois da tempestade a previsão é de calmaria, mas com desafios pela frente. Em entrevista sobre os resultados do banco na quarta-feira (9), o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., disse que a instituição teve uma “tempestade perfeita” no terceiro trimestre de 2022. A empresa reportou lucro líquido recorrente de R$ 5,223 bilhões, queda de 22,8% na comparação com igual período de 2021.

O executivo apontou que a situação deve começar a melhorar a partir do segundo semestre do próximo ano. Nesse cenário adiante, o banco espera um ambiente mais favorável para o crédito sustentável. “Não vejo surpresas para 2023”, disse.

A tempestade a que ele se referia foi provocada pela alta da inadimplência no Bradesco. A perda de renda das famílias num ambiente de inflação muito elevada fez o índice de inadimplência subir 1,3 ponto porcentual em 12 meses, de 2,6% para 3,9% em setembro de 2022.

“O crédito pessoal se deteriorou muito rápido. O poder de compra da população foi corroído pela inflação e batemos o recorde de população endividada no Brasil. Foi isso que gerou maior necessidade de provisões. Mas já estamos mais restritivos na concessão de cartões à baixa renda”, afirmou o executivo.

Para fazer frente ao risco de crédito, o banco revisou suas provisões (PDD) da faixa entre R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões para o patamar entre R$ 25,5 bilhões e R$ 27,5 bilhões. O aumento de PDD e dos atrasos nas contas dos clientes causou raios e trovões no mercado. Os papéis da instituição fecharam entre as maiores baixas da Bolsa, com queda de 17,38% da ação preferencial (PN) e de 16,01% da ação ordinária (ON), puxando o Ibovespa para uma forte queda de 2,22%, aos 113.580 pontos.

Claudio Gatti

“Temos uma Estrutura de mais de 4 mil agências físicas pelo brasil, Estamos ajustando ao custo adequado” Octaviode Lazari JR., CEO do Bradesco.

De acordo com o balanço, a carteira de crédito avançou 13,6% em 12 meses, para R$ 878,6 bilhões, com destaque para operações com cartões de crédito e crédito pessoal. “Trancamos um pouco isso”, disse. “Esse crescimento da carteira, aliado ao mix de riscos e condições específicas de mercado, refletiram no aumento das despesas com PDD e dos índices de inadimplência. Reforçamos nossa PDD complementar em cerca de R$ 1 bilhão neste trimestre, totalizando R$ 9,7 bilhões”, disse o executivo.

Além do controle do crédito para evitar perdas, Lazari disse que o banco pretende avançar no projeto de digitalização. “Temos uma estrutura de mais de 4 mil agências físicas pelo Brasil, estamos ajustando o tamanho delas ao custo adequado”, afirmou.

Na prática, as agências serão pontos de negócios para atendimento de consultoria de investimentos, seguros e previdência privada.

Nessa estratégia de otimização da presença física, o Bradesco já reduziu 1.746 agências desde 2018. Atualmente, 70% dos correntistas são de contas digitais e 98% das transações são realizadas por canais digitais, sendo 93% concentradas via mobile (celular).

OUTRAS FRENTES Questionado sobre os projetos de crescimento para o médio e longo prazo, Lazari respondeu que o potencial está no banco digital Next. O número de clientes do Next avançou 77% em 12 meses, para 13,6 milhões, sendo 78% não-correntistas do Bradesco. “O Next continua crescendo”, afirmou.

Sobre os planos de expansão internacional, o executivo citou a atuação do BAC Flórida Bank. “Nós compramos esse banco para atender nossos clientes nos Estados Unidos para necessidades de cartão de crédito e investimentos. Podemos atender estrangeiros por meio dele”, disse. É com esses projetos que Lazari pretende navegar para chegar em águas mais calmas, sem tempestades.