Os cães convivem com os homens desde a Era do Bronze, há 4.500 anos antes de Cristo. No Egito dos faraós, os gatos eram até mumificados. Mas nunca, nesta longa história, gastou-se tanto como atualmente para conservar a saúde de animais de estimação. Os donos modernos não hesitam em pôr a mão no bolso na hora de comprar remédios. O maior laboratório do mundo, a norte-americana Pfizer, proprietária de marcas famosas como o Viagra e com faturamento de US$ 27,6 bilhões, farejou o mercado. Em 1995, criou a divisão de Saúde Animal e hoje fatura meio bilhão de dólares por ano com a venda de comprimidos e vacinas para animais de companhia em 150 países. É bom frisar: está fora desta cifra de US$ 500 milhões a renda dos medicamentos destinados a bois e porcos. No Brasil, as vendas de produtos da Pfizer para o melhor amigo do homem e para os bichanos chegam a US$ 3,9 milhões anuais. Mas o potencial do mercado é expressivo. ?Estimamos crescer este ano 100%?, revela José Francisco Hintze Júnior, diretor da Divisão de Saúde Animal para a América do Sul. As vendas de produtos para animais de produção chegam a US$ 66 milhões, mas o crescimento do setor é de apenas 5%.

Em abril deste ano, a Pfizer criou, dentro da Divisão de Saúde Animal, o departamento de Animais de Companhia, dirigido por Paulo César Rovai. Ele cuida de todos os países da América do Sul. ?Temos muito ainda que avançar neste segmento?, reforça Rovai. A Pfizer está em segundo lugar no ranking do setor, atrás da Merial. Estima-se movimento anual superior a US$ 60 milhões no País só com vendas de medicamentos. A matriz, nos Estados Unidos, está investindo US$ 200 milhões por ano em pesquisas ? a busca de novos remédios para os seres humanos exige muito mais, US$ 4,7 bilhões. O objetivo é lançar um novo produto a cada ano. Em 1999, foi a vez do Rimadyl, destinado a controlar a dor causada pela osteoartrite, doença que afeta as articulações dos cães. No próximo mês, será a vez do Revolution, produto que, como diz o nome, promete sacudir o setor assim que chegar às prateleiras das farmácias veterinárias. O remédio é indicado para vários males, do combate a parasitas internos à prevenção contra os carrapatos. Ao que tudo indica, não é apenas um produto com nome pretensioso. No mercado norte-americano, onde já foi lançado, as vendas em seis meses alcançaram US$ 35 milhões. ?O Revolution deve ser a âncora de nosso crescimento?, aposta Rovai.

Nos Estados Unidos, existem cerca de 50 milhões de cães de 400 raças, com funções distintas como a de guarda, guia de cegos, farejador de droga ou companhia. É de lá, de acordo com a veterinária Mônica Barbieri, pós-graduada pelo The Animal Medical Center, de Nova York, que vem a ofensiva dos fabricantes de remédios e de produtos Pets. ?Esta é uma tendência já observada nos Estados Unidos, onde gasta-se, cada vez mais, com a saúde, a beleza, o banho e a tosa dos animais de estimação?, conta ela. A experiência no dia-a-dia de seu consultório, na Zona Sul de São Paulo, confirma a mudança, na última década, da relação dos homens com os animais de estimação. ?Por causa da correria da vida moderna, a falta de tempo e o stress, as pessoas estão buscando a companhia de cães e gatos e cuidando melhor deles?, explica Mônica. Hoje, já há especialização na medicina veterinária e são significativos os avanços no tratamento do câncer. ?Os animais estão agora mais integrados às famílias?, acrescenta. No consultório, são entregues inúmeros folhetos publicitários dos laboratórios. ?Eles estão travando uma guerra de marketing?, define. Melhor para os antigos companheiros dos homens.