O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar o Judiciário e a lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral, em discurso na manhã desta quinta-feira, 19, no Rio. Bolsonaro afirmou que passa “mais da metade” de seu tempo “se defendendo” de “interferências indevidas” do Supremo Tribunal Federal (STF) e repetiu, sem citar provas ou comprovação de irregularidades em pleitos passados, que os votos nas eleições gerais de outubro deveriam ser “contados publicamente” e “auditados”, pois não se pode “enfrentar” um sistema eleitoral sobre o qual “paire dúvidas”.

O presidente começou os ataques ao Judiciário pela repetição de que decisões do STF teriam impedido o governo federal de agir no combate à pandemia de covid-19. “Vivemos um problema no mundo, e no Brasil não está diferente. Apesar de eu ser o único chefe de Estado do mundo a ter uma visão diferente sobre como deveríamos tratar a pandemia. Lamentavelmente, o STF tirou de mim esse que seria o meu direito. E a economia (sic) do ‘fica em casa’, ‘a economia a gente vê depois’, as consequências estão aí. Terríveis para todos nós”, afirmou Bolsonaro, em rápido discurso durante o Congresso Mercado Global de Carbono, organizado pela Petrobras e pelo Banco do Brasil, no Jardim Botânico do Rio.

O presidente citou “interferências do Judiciário” ao dizer que escolheu seus ministros sem indicações políticas, embora partidos do chamado Centrão, como o PP e o PL, ao qual Bolsonaro se filiou já durante o mandato, façam parte do governo.

No discurso, Bolsonaro disse que seus ministros poderiam estar ganhando “dez vezes mais” em outros locais, mas preferiram trabalhar no governo, e, por isso, “estão sofrendo muito”, com “interferências explícitas do Poder Judiciário, o que é muito lamentável”.

“Mais da metade do meu tempo eu passo me defendendo de interferências indevidas do STF, mas estamos fazendo a nossa parte e jogando dentro das quatro linhas. E o Brasil está rodando”, afirmou Bolsonaro.

A referência às “quatro linhas” da Constituição Federal é recorrente nos discursos do presidente. Em seguida, Bolsonaro citou as eleições gerais de outubro e destacou que, no Brasil, “quem diria?”, o chefe do Executivo federal seria quem está “brigando pela democracia”, enquanto, segundo o presidente, “naturalmente (sic), o que acontece é o chefe do Executivo conspirar para se perpetuar no poder”. “Aqui é diferente”, afirmou.

Sobre as eleições, Bolsonaro disse que o voto “é a consciência de cada um”, mas voltou a lançar dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral e cobrou “auditoria” na apuração. “O voto é a alma da democracia, ele tem que ser contado publicamente e auditado. Não serão duas ou três pessoas que vão bater no peito e dizer ‘eu mando, vai ser assim, e quem agir diferente, vou cassar registro e vou prender’. Isso não é democracia”, afirmou o presidente, ainda durante o discurso.

Forças armadas

Bolsonaro citou também a participação das Forças Armadas nas discussões sobre segurança técnica das eleições de outubro, a convite do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “As Forças Armadas, da qual sou chefe supremo, foram convidadas a participar do processo eleitoral. E não vão ser jogadas no lixo as observações, as sugestões das Forças Armadas”, afirmou o presidente.

Embora tenha lançado as dúvidas, Bolsonaro disse que quer que sejam respeitados tanto o voto de “quem, por ventura, votar no outro lado” quanto o de “quem votar do lado de cá”. “Não podemos enfrentar um sistema eleitoral onde paire a sombra da suspeição. Há uma democracia, é o voto contado”, afirmou o presidente, já na parte final do discurso, conforme transmissão ao vivo nas redes sociais feitas por Max Guilherme, assessor especial da Presidência.

Bolsonaro chegou ao Jardim Botânico, na zona Sul do Rio, às 10h47. Após o discurso a uma plateia apenas de convidados, ao qual a imprensa não teve acesso, o presidente plantou uma muda de árvore no jardim, fundado no início do século XIX e administrado pelo governo federal. Pouco depois das 12h, Bolsonaro atravessou a rua Jardim Botânico a pé, para um almoço fechado, para convidados, no restaurante Rubayatt, onde voltou a discursar. O presidente não parou para falar com a imprensa no caminho.

A comitiva de Bolsonaro incluía um de seus filhos, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), e os ex-ministros e generais da reserva Eduardo Pazuello e Walter Braga Netto. No evento, o presidente esteve acompanhado dos ministros do Meio Ambiente, Joaquim Leite, de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), além do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano.