O presidente Jair Bolsonaro chegou nesta segunda-feira (21) a Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, seu primeiro compromisso internacional como chefe de Estado, no qual terá a tarefa de mostrar que “o Brasil mudou” e que tem no comando um governo alinhado com os interesses do mercado e do agronegócio.

“Nós queremos mostrar que o Brasil está tomando medidas para que o mundo restabeleça confiança em nós, que os negócios voltem a florescer entre o Brasil e o mundo, sem viés ideológico”, disse Bolsonaro a jornalistas ao chegar ao hotel onde se hospeda na cidade suíça.

“[Queremos] mostrar que podemos ser um país seguro para investimentos, em especial para a questão do agronegócio, que é muito importante para nós. É o nosso commodity mais caro, queremos ampliar esse tipo de comércio”, acrescentou.

“Para isso estamos aqui: para mostrar que o Brasil mudou”, emendou.

Sua estreia como presidente em um evento internacional ocorre em um momento em que aumenta a pressão sobre seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro, deputado estadual e senador eleito, com posse prevista para 1º de fevereiro, vinculado a uma série de movimentações bancárias consideradas suspeitas.

Acompanham-no na comitiva presidencial outro filho, o deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro, os ministros da Economia, Paulo Guedes; de Relações Exteriores, Ernesto Araújo; e da Justiça, Sérgio Moro, entre outras autoridades, segundo a Agência Brasil.

O discurso de Bolsonaro, previsto para esta terça-feira, é muito aguardado em Davos, que reúne 3.000 empresários e líderes políticos entre terça (22) e sexta-feira (25), e que este ano será marcado pela ausência de grandes líderes como o presidente americano, Donald Trump; a premiê britânica, Theresa May, e o presidente francês, Emmanuel Macron, mergulhados em suas próprias crises domésticas.

“Vai ser um discurso muito curto. Foi feito e corrigido por muitos ministros para que pudéssemos dar o recado mais amplo possível do novo Brasil que se apresenta com nossa chegada ao poder”, antecipou Bolsonaro a jornalistas na Suíça.

Perguntado sobre as privatizações, o presidente afirmou que seu ministro da Economia, Paulo Guedes, “só vai anunciar (a agenda de privatizações) no momento em que tivermos certeza de que faremos boas privatizações”.

Na noite de terça, o capitão da reserva, que assumiu a Presidência em 1º de janeiro, tem previsto jantar com seus contrapartes de Colômbia, Equador, Peru e Costa Rica.

Segundo a Agência Brasil, Bolsonaro também poderá participar de um painel sobre a crise na Venezuela, sobre a qual prometeu esta semana fazer tudo o possível para solucionar, e em outro denominado “O Futuro do Brasil”.

“Espero que rapidamente mude o governo da Venezuela”, declarou em sua chegada à cidade suíça.

– Depósitos “suspeitos” –

A viagem de Bolsonaro a Davos ocorre em meio à polêmica crescente sobre as movimentações bancárias envolvendo seu filho mais velho, o senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro.

Na sexta-feira, a TV Globo, com base em documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), revelou 48 depósitos bancários “suspeitos” em seu benefício entre junho e julho de 2017 no valor de 96.000 reais e o pagamento de 1.016.839 reais de um título bancário da Caixa Econômica Federal.

No domingo, o senador eleito disse que os depósitos fracionados – no valor de 2.000 reais cada um – e do título bancário correspondem à compra e venda de um apartamento no Rio de Janeiro.

“Esse dinheiro é meu, depositado na minha própria conta (…) Não tem mistério nenhum, está tudo declarado, justificado, no papel. Tudo declarado ao fisco, na escritura. Se fosse algo ilícito, você acha que eu ia botar na minha conta? Não tem dinheiro ilícito na minha mão”, defendeu-se em entrevista à TV Record.

Também no domingo, o colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim, revelou que o ex-motorista e ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, movimentou 7 milhões de reais entre 2014 e 2017, depois que uma investigação contra ele por movimentação financeira atípica foi suspensa por ordem do Supremo Tribunal Federal.

Queiroz era investigado por fazer transferências no valor de 1,2 milhão de reais – incluídos nos sete milhões de reais mencionados por Jardim – entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, aparentemente incompatíveis com sua renda.

Um tema que desde que veio à tona no começo de dezembro, em matéria do jornal O Estado de S. Paulo, semeou dúvidas sobre a família do presidente, que durante sua campanha prometeu combater a corrupção com firmeza.