Por Lisandra Paraguassu

LOS ANGELES, Estados Unidos (Reuters) -O presidente Jair Bolsonaro levou ao encontro com o presidente norte-americano, Joe Biden, um pedido para que os Estados Unidos revejam as cotas para importação do aço brasileiro, uma das principais reivindicações da indústria do país, e a expectativa é que o assunto avance em breve, disseram à Reuters duas fontes do governo brasileiro.

Apesar de não ter havido um desenvolvimento concreto, Bolsonaro saiu da reunião bilateral de quinta-feira com a promessa do presidente norte-americano de que o tema será analisado em reuniões técnicas entre os dois países nos próximos meses.

“O presidente Biden disse que não tinha detalhes sobre o tema naquele momento, mas iria se informar e o assunto seria retomado com as equipes técnicas dos dois países assim que possível”, disse uma das fontes.

Procurado, o Itamaraty não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre o assunto.

O assunto foi tratado durante a reunião privada dos dois presidentes onde, além de Bolsonaro e Biden, estiveram presentes apenas o chanceler brasileiro, Carlos França, e o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, além dos tradutores.

“Tivemos sinais de que esse assunto deve ser enfrentado. A verdade é que quem está se beneficiando com essa sobretaxa agora é a Rússia”, disse a segunda fonte. “A expectativa é que isso seja resolvido rapidamente.”

NESTE ANO

“Temos expectativa que saia neste ano” a revisão das cotas, disse o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.

As cotas para importação do aço brasileiro foram criadas no governo de Donald Trump, em 2018, e estabelecem que o Brasil tem direito a exportar parte do produto sem incidência dos impostos de importação.

Nos valores atuais, o Brasil tem direito a exportar uma cota de 3,5 milhões de toneladas de placas de aço, material conhecido como semi-acabado e insumo da própria indústria siderúrgica norte-americana, sem a sobretaxa, que chega a 25%.

Além da cota para os semi-acabados, os EUA criaram uma para os acabados, produtos como bobinas e chapas que podem ser usados diretamente pela indústria norte-americana. Neste caso, o país calculou uma média de volume exportado pelo Brasil entre 2015 e 2017 e aplicou um redutor de 30% sobre este montante.

Segundo Lopes, o setor siderúrgico brasileiro aguardava esta primeira reunião entre Bolsonaro e Biden para ter uma sinalização para um início das negociações sobre as cotas. “Seria impensável uma missão se houvesse um estresse na relação”, disse o executivo.

“O desdobramento disso (reunião entre os dois presidentes) é que vamos agora colocar de pé uma nova missão aos EUA”, disse Lopes, sem precisar quando ela poderia ocorrer.

Segundo ele, o comércio siderúrgico entre Brasil e EUA é de cerca de 3,6 bilhões de dólares por ano, cifra que soma 2,6 bilhões em exportações brasileiras e 1 bilhão de importação de carvão metalúrgico pelo Brasil.

Lopes lembrou que o governo Biden aprovou recentemente o pacote de investimentos em infraestrutura de mais de 1 trilhão de dólares e é defensor de política que incentiva compra de produtos produzidos nos EUA pelos consumidores norte-americanos. Além disso, a Rússia, segunda maior exportadora de placas para os EUA, passou a sofrer sanções do Ocidente após iniciar a guerra contra a Ucrânia este ano.

“A indústria norte-americana precisa do semi-acabado brasileiro. É uma matéria-prima estratégica para eles”, disse Lopes, citando que 85% das exportações de aço do Brasil para os EUA são do material.

Entre os grandes exportadores de aço semi-acabado e acabado do Brasil para os EUA estão ArcelorMittal e CSN. Procurada, a ArcelorMittal preferiu não se manifestar e a CSN não comentou o assunto de imediato.

O pleito da siderurgia brasileira segue o mesmo: retirada dos semi-acabados do regime de cotas para exportação sem sobretaxas e fim do redutor sobre os acabados para que o volume vendido aos EUA destes produtos possa ser elevado.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu, com reportagem adicional Alberto Alerigi Jr em São Paulo, edição de André Romani)

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