O presidente Jair Bolsonaro fez várias declarações enganosas ou imprecisas nesta terça-feira (21), durante a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, verificadas pela equipe de Factcheck da AFP no Brasil.

– Tratamento “precoce” e combate à covid –

“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce”, declarou Bolsonaro. “Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial”, acrescentou, voltando a defender, apesar de não citá-la, a hidroxicloroquina, um medicamento antimalária que se mostrou ineficaz contra a covid-19 em testes clínicos.

Embora tenha afirmado sempre ter defendido o combate “ao vírus e ao desemprego simultaneamente e com a mesma responsabilidade”, em diversas oportunidades o presidente minimizou a gravidade da doença, inclusive classificando-a como uma “gripezinha”.

“Apoiamos a vacinação”, também afirmou Bolsonaro, apesar de ter garantido que será “o último brasileiro” a se vacinar, além de duvidar da eficácia do imunizante da Pfizer, que poderia transformar as pessoas em “jacaré”.

– Meio Ambiente e Amazônia –

Bolsonaro afirmou que “na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior”, um dado verdadeiro, mas que precisa ser contextualizado.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), desde o início do ano, perdeu-se uma área muito semelhante à do ano passado (6.098 km² entre janeiro e julho de 2020, ante 5.944 km² no mesmo período de 2021).

“Em seu governo, o desmatamento cresceu por dois anos consecutivos”, lembrou a ONG Observatório do Clima após o discurso do mandatário na ONU.

Quanto aos incêndios, eles também dispararam. Segundo o Inpe, foram registrados 28.060 incêndios na Amazônia brasileira no mês passado, 4,3% a menos do que em agosto de 2020, embora bem acima da média de 18 mil na década anterior à chegada de Bolsonaro ao poder em 2019.

– “Sem corrupção” no Brasil –

“Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção”, afirmou Bolsonaro, referindo-se ao período em que governa o país.

Embora não tenham sido concluídas, várias investigações estão em andamento contra o presidente e seu entorno: uma CPI no Senado investiga denúncias de irregularidades em um dos contratos negociados por seu governo para comprar vacinas anticovid, e o próprio Bolsonaro enfrenta uma investigação por suspeita de que estava ciente dessas queixas e não informou as autoridades.

Seu ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, está sendo investigado por suposto envolvimento em esquema de exportação ilegal de madeira e, embora não faça parte formalmente do governo, o senador e filho do presidente Flávio Bolsonaro foi denunciado pelo Ministério Público por suspeitas de participação em esquema de desvio de dinheiro quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

– Manifestações recorde –

Bolsonaro afirmou que os movimentos de rua de 7 de setembro, nos quais criticou o judiciário e inflamou apoiadores que defendiam atitudes antidemocráticas, foram “a maior manifestação da história” do Brasil.

Embora não houvesse estimativa nacional do público, apenas o protesto em São Paulo reuniu, segundo a polícia, cerca de 125.000 manifestantes pró-governo, enquanto em março de 2016 um protesto contra a então presidente Dilma Rousseff no mesmo local reuniu 1,4 milhões de pessoas.