Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quinta-feira que terá um encontro bilateral com o presidente norte-americano, Joe Biden, durante a Cúpula das Américas, em junho, mas, em sua primeira fala pública sobre a viagem, disse que não irá aos Estados Unidos “para ser moldura de foto”.

Mostrando incômodo com o que considera uma mudança de comportamento dos EUA em relação ao Brasil após a posse de Biden no lugar de Donald Trump, Bolsonaro reclamou que houve um “congelamento” nas relações sob o governo democrata e disse que conversou sobre isso com Chris Dodd, enviado especial de Biden que trouxe convite pessoal para sua participação na cúpula.

“Ele enviou uma pessoa especialmente para conversar comigo e ali eu botei as cartas na mesa, eu falei da mudança do comportamento dos Estados Unidos com o Brasil quando o Biden assumiu. Com o Trump estava indo muito bem, tínhamos muitas coisas combinadas para fazer aqui no Brasil”, disse.

A poucos dias do que deve ser o primeiro encontro formal entre os dois presidentes, Bolsonaro citou a idade de Biden, que tem 79 anos, como um possível fator por ter sido ignorado pelo líder norte-americano durante Cúpula do G20 em outubro do ano passado.

“Encontrei ele no G20 e ele passou como se eu não existisse, mas esse foi um tratamento com todo mundo por parte do Biden. Não sei se é a idade, não sei o que é. Pelo que eu vi que foi acertado, terei uma bilateral com ele e irei para lá para fazer valer o que o Brasil representa para o mundo”, afirmou.

Bolsonaro estava decidido a não comparecer à Cúpula das Américas diante da má relação com o atual governo norte-americano e com as eleições presidenciais se aproximando, uma vez que Biden, ao contrário de Trump, não faz sucesso dentro do bolsonarismo. No entanto, o convite pessoal e a promessa de uma bilateral levaram o presidente a aceitar a viagem.

Nas redes sociais, apoiadores do presidente comemoraram o convite como um “pedido de socorro” de Biden para salvar a Cúpula das Américas, esvaziada com a ausência de outros presidentes. Dentro do Palácio do Planalto, assessores também tentam passar a impressão de um favor de Bolsonaro ao presidente norte-americano.

Ao conversar com jornalistas esta manhã, o presidente deixou claro que vê o convite como uma deferência à importância do Brasil, e só por isso decidiu aceitar.

“Eu estava propenso a não comparecer. Eu não posso, com o tamanho do Brasil, ir lá e ser moldura para fotografia”, disse. “Eu não vou lá para sorrir, apertar mão e posar para fotografia. Eu sou presidente do Brasil e não como alguns querem que eu acolha uma pauta internacional para ficar bem na foto. Isso não vai acontecer enquanto eu for presidente.”

A Cúpula das Américas acontece entre 6 e 10 de junho, em Los Angeles. A reunião bilateral entre os dois presidentes acontecerá às margens do encontro regional.

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