BRASÍLIA (Reuters) -O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que há exageros em responsabilizar a guerra na Ucrânia pelos problemas econômicos no Brasil, contradizendo o principal argumento do governo ao apresentar uma PEC para reconhecer estado de emergência diante do conflito no leste europeu.

Em conversa com apoiadores, o presidente creditou o impacto econômico às políticas de restrição de circulação para conter as taxas de contaminação da Covid-19 durante a fase mais crítica da pandemia.

“Há um excesso de culpabilidade em cima de um caso de uma guerra”, disse Bolsonaro. “Existem as consequências? Existem. Mas não essa consequência toda. O grande problema nosso aqui foi o ‘fica em casa, a economia a gente vê depois'”, completou.

A alta de preço dos combustíveis em decorrência da guerra na Ucrânia foi um dos principais argumentos do governo para prever, em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o reconhecimento de um estado de emergência que abriria brecha jurídica para a concessão de reajustes de benefícios já existentes –caso do Auxílio Brasil e do Auxílio-Gás– e para a criação de outros, voltados a categorias como os taxistas e ainda suplementação de crédito destinado a programa alimentar.

A ideia de estabelecer o estado de emergência provocou críticas. Parlamentares contrários à PEC e a esse dispositivo a acusaram de tratar-se de uma manobra para driblar o teto de gastos e a lei eleitoral, além de identificarem no instrumento supostos objetivos eleitoreiros de Bolsonaro, que tenta a reeleição em outubro.

No mercado também houve reação. As preocupações com o cenário fiscal doméstico estão no radar dos investidores, que apontam o potencial impacto inflacionário de medidas como a PEC dos Benefícios.

O relator da proposta na Câmara, deputado Danilo Forte (União-CE) já sinalizou ter a intenção de tirar do texto da proposta o trecho que reconhece o estado de emergência. O parlamentar estuda alternativas que explorem possibilidades da lei do teto de gastos. As sugestões do deputado são objeto de intensas reuniões na noite desta segunda-feira e das previstas para a terça-feira com lideranças de bancada.

Bolsonaro aproveitou ainda, nesta segunda, para comentar que o governo federal já reduziu ou zerou impostos sobre combustíveis, além de manifestar esperança de que a Petrobras reduza os preços sobre os combustíveis em caso de redução do preço do petróleo Brent.

“Se o Brent continuar caindo, dá para –a Petrobras que decide–, mas já é uma esperança de diminuir também. Mas com transparência”, disse. Nesta segunda, o Brent subiu 1,87 dólar, ou 1,68%, a 113,50 dólares por barril.

A definição do preço dos combustíveis, pela atual política da empresa, leva em conta não apenas o preço do barril, mas também a variação do câmbio, entre outros componentes.

No mês passado, o dólar marcou a maior valorização frente ao real desde março de 2020, diante de temores generalizados com a possibilidade de recessão nas principais economias e também em reação à alta dos juros nos Estado Unidos, em meio às consequências do conflito na Ucrânia.

(Reportagem de Maria Carolina MarcelloReportagem adicional de Isabel VersianiEdição de Pedro Fonseca)

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