O presidente Jair Bolsonaro declarou nesta segunda-feira, em Washington, que Brasil e Estados Unidos devem libertar a Venezuela, um dia antes de sua reunião com Donald Trump, na Casa Branca, que deverá ser dominada pela questão.

“Temos que resolver a questão da nossa Venezuela. A Venezuela não pode continuar da maneira que se encontra. Aquele povo tem que ser libertado. E acreditamos e contamos obviamente com o apoio norte-americano para que esse objetivo seja alcançado”, disse Bolsonaro em discurso na Câmara de Comércio.

Após o discurso, o porta-voz Otávio Rêgo Barros disse aos jornalistas que “o tema da Venezuela tem que ser resolvido e contamos com nossa diplomacia”.

A férrea oposição a que ambos consideram uma “ditadura” do presidente Nicolás Maduro é um dos assuntos que mais unem Trump a Bolsonaro.

Estados Unidos e outros 50 países – incluindo o Brasil – reconhecem o líder do Parlamento, Juan Guaidó, como presidente interino, e têm aplicado sanções econômicas e um embargo ao petróleo da Venezuela.

Nesta segunda-feira, Bolsonaro deu outro passo no alinhamento com Trump ao consolidar o acordo sobre o uso da base de Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de foguetes americanos.

O acordo, que prevê salvaguardas tecnológicas que permitirão o uso da base de Alcântara para o lançamento de foguetes americanos, foi firmado pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, antes do encontro entre Bolsonaro e Trump, na terça-feira.

A base de Alcântara está numa localização ideal para lançamentos, por estar muito próxima da Linha do Equador, o que permite economizar até 30% de combustível ou levar mais carga.

Durante o dia, Bolsonaro visitou a sede da CIA para conversar sobre crime organizado e tráfico de drogas, assim como outros temas importantes para a segurança do Brasil.

Esta incomum visita de um presidente estrangeiro à agência de Inteligência americana foi informada por Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do mandatário.

Bolsonaro chegou a Washington no domingo à tarde. Embora seja sua primeira viagem oficial ao exterior desde que assumiu o poder em 1º de janeiro, sua estreia internacional foi o Fórum de Davos realizado na Suíça neste mesmo mês.

Sua visita servirá para promover os negócios e investimentos bilaterais.

A decisão de romper a tradição dos últimos presidentes brasileiros de fazer sua primeira visita oficial à Argentina foi um gesto ao qual Trump correspondeu, alojando Bolsonaro na Blair House, a residência oficial para hóspedes oficiais situada em frente à Casa Branca.

“Brasil e Estados Unidos juntos assustam os defensores do atraso e da tirania ao redor do mundo. Os quem tem medo de parcerias com um país livre e próspero? É o que viemos buscar!”, tuitou Bolsonaro depois de aterrissar no domingo.

Desde que chegou ao poder em janeiro, o presidente de extrema direita deu uma guinada na diplomacia brasileira, tradicionalmente equidistante dos grandes poderes mundiais, e se orientou para estreitar relações com governos conservadores e “antiglobalistas” como Estados Unidos, Israel e Itália.

Ernesto Araújo disse que a viagem aos Estados Unidos marcará a “reativação de uma associação natural”.

Bolsonaro viajou acompanhado de seis ministros, entre eles Araújo, o titular de Economia, Paulo Guedes, e o da Justiça e Segurança, Sérgio Moro.

Décadas de relações que não passavam de cordiais entre Brasília e Washington ficaram para trás com a chegada de Bolsonaro ao poder, apelidado de “Trump tropical” por sua admiração e sua sintonia ideológica com a agenda nacionalista e “antiglobalista” do americano.

Na noite de domingo, Bolsonaro participou de um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington. Também estiveram presentes Steve Bannon, o polêmico ex-assessor de Trump, e Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro.

Na tarde de ontem, cerca de 50 pessoas se reuniram diante da Casa Branca para protestar com cartazes que diziam “Bolsonaro assassino” e “Lula Livre”.

– Agenda cheia

Sua visita é uma vitrine para promover negócios e investimentos. O presidente discursou na Câmara de Comércio, em Washington.

Durante o dia, manteve uma reunião privada com o ex-secretário do Tesouro Henry Paulson.

Na terça, às 9h30 locais, Bolsonaro se encontra com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.

O prato principal do dia será o esperado encontro com Trump na Casa Branca, que incluirá uma entrevista coletiva, antes do encontro privado entre ambos os presidentes programado para 14h15 locais.

Um dos eixos da agenda com Trump é a crise na Venezuela. A oposição ferrenha ao que ambos consideram uma “ditadura” no país caribenho é um dos temas que mais os une.

Os analistas esperam que ambos também discutam medidas para aumentar o comércio bilateral – sem rebaixar limites que no caso do Brasil impõe o Mercosul – e o ingresso do gigante sul-americano na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

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