A manhã é de pessimismo generalizado nas bolsas europeias. Os mercados operam no vermelho, levando o índice pan-europeu Stoxx-600 a cair 0,28% há pouco. Além da crescente incerteza em relação ao desfecho do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que teve hoje um início duro, uma surpresa na África do Sul também sacudiu o mercado. O presidente Jacob Zuma decidiu demitir o ministro das Finanças, Pravin Gordhan, que havia sido um dos destaques do evento paralelo ao G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) em Frankfurt, a Conferência do Instituto Internacional de Finanças (IIF), há apenas 15 dias. Uma série de indicadores sobre a economia local também dá o tom aos negócios na Europa.

Dois dias depois de o Reino Unido iniciar o processo de formalização de seu divórcio com a União Europeia (UE), os britânicos receberam uma resposta dura do bloco. Como já sinalizado, os 27 países-membros do mercado único reforçaram na manhã de hoje que não há possibilidade de fechar um futuro acordo comercial com o Reino Unido e seus vizinhos antes de o país deixar o bloco. O governo de Londres vem defendendo que os dois temas sejam negociados simultaneamente.

O esboço de diretrizes para o Brexit foi divulgado mais cedo pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o tema será discutido na cúpula de líderes no dia 29 de abril. A prioridade da UE será garantir a saída ordenada do país do bloco, sem a possibilidade de acordos bilaterais com outros integrantes pelos próximos dois anos – período previsto para o encerramento do processo. O documento avaliou que o Brexit deve causar “significativos transtornos” para famílias e empresas, mas também expressa o desejo de uma parceria próxima com o Reino Unido no futuro.

O setor de commodities (-1,57%) é o que mais ajuda a arrastar o Stoxx-600 para baixo, com perdas principalmente no setor de mineração. Cobre e petróleo operam em queda. Gigantes do setor, como BHP Billinton, Fresnillo e Antofagasta, amargam quedas de mais de 2%. O movimento é fortemente influenciado pela reorganização do governo na África do Sul. De acordo com a CNBC, as ações do fundo de investimento britânico Old Mutual caíram mais de 7% na abertura dos negócios devido à sua alta exposição ao comércio do país africano.

Em 15 de março, na Alemanha, o ministro Gordham representou uma das poucas vozes dos países emergentes na conferência do IIF. Na ocasião, ele afirmou que as recentes transformações pelas quais o mundo tem passado trouxeram a recuperação de termos que não se ouviam mais nas intermediações internacionais. “O vocabulário de guerra comercial está voltando”, disse.

Muitos indicadores foram divulgados na manhã de hoje também. No campo da inflação, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) desacelerou de 2% em fevereiro para 1,5% em março na comparação anual na zona do euro. Uma perda de força era esperada, mas o resultado ficou abaixo da expectativa do mercado financeiro, de alta de 1,8%, e também levou o índice a voltar a ficar abaixo da meta do Banco Central Europeu (BCE), que é de uma taxa ligeiramente inferior a 2%.

Foram conhecidos ainda os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) de vários países. No caso do Reino Unido, houve uma revisão de 2% para 1,9% da alta da atividade no quarto trimestre do ano passado em relação ao mesmo período do ano anterior. Ante o terceiro trimestre, a expansão de 0,7% foi mantida. Já na Turquia, a expansão anual da economia foi de 3,5% no quarto trimestre de 2016. O resultado superou em muito a previsão de analistas, de elevação de 2,2%. No ano, o PIB turco cresceu 2,9%, também acima da estimativa do mercado financeiro, de acréscimo de 2,2%.

Na Alemanha, as vendas no varejo subiram 1,8% em fevereiro, na margem, no dado ajustado sazonalmente. O resultado é o melhor desde agosto de 2014 e surpreendeu as projeções que indicavam uma variação bem menor, de 0,7%. Na comparação anual, porém, o indicador do comércio mostrou recuo de 2,1% em termos reais, atribuído a uma questão de calendário. O mercado de trabalho no país também segue pujante. A taxa de desemprego atingiu em março o menor nível da série histórica, iniciada em 1992, a 5,8%. Os dados positivos alemães fizeram a bolsa local diminuir o mau humor visto nas demais praças e o índice DAX chegava há pouco a operar no azul, mas agora mostrava leve baixa, muito próximo da estabilidade.

Às 7h37 de Brasília, a Bolsa de Londres caía 0,52%, a de Frankfurt recuava 0,06 e a de Paris cedia 0,30%. Em Milão, a perda era de 0,17% e, em Madri, de 0,34%. Em Lisboa, a baixa era de 0,35%. No mercado cambial, o euro operava praticamente estável, cotado a US$ 1,0680, enquanto a libra caía para US$ 1,2450.