O Ibovespa emendava a segunda sessão em sinal negativo, vindo de quatro ganhos que o haviam reaproximado dos 123 mil pontos, marca tocada nas três sessões anteriores, no intradia, pela primeira vez desde meados de janeiro. Nesta quinta-feira, 20, o índice da B3 virou nos ajustes finais e fechou bem perto da estabilidade (+0,05%), a 122.700,79 pontos, após discreta perda de 0,28% ontem, quando prevaleceram temores sobre ajuste na orientação da política monetária dos Estados Unidos, na ata do Federal Reserve. Nesta quinta-feira, os juros longos americanos se acomodaram em níveis mais baixos, assim como o dólar à vista, a R$ 5,27 no fechamento, tendo chegado a R$ 5,32 na máxima de ontem – hoje, não foi além de R$ 5,3066 na sessão.

Em Nova York, o dia também foi de recuperação, com destaque para o Nasdaq (+1,77%). Aqui, os ganhos abaixo de 1% para o setor de bancos (à exceção de Santander, -0,51%) foram contrabalançados por novo dia negativo para as commodities e mineração, entre as quais Petrobras ON (-1,37%), Vale ON (-1,02%) e Gerdau PN (-3,30%). Na ponta positiva do Ibovespa, BRF (+5,18%), Locamérica (+5,12%) e Localiza (+4,53%). No lado oposto, Suzano cedeu 4,19% e Yduqs, 3,06%, com Gerdau PN entre as duas. O giro financeiro da B3 foi de R$ 33,3 bilhões nesta quinta-feira, entre mínima de 122.136,16 e máxima de 122.733,95 pontos na sessão.

Faltando pouco mais de uma semana para o encerramento do mês, o Ibovespa acumula ganho de 3,20% em maio – na semana, avança até aqui 0,67% e, no ano, 3,09%. O índice da B3 manteve-se sem quebra na faixa de 122 mil pontos nos últimos quatro fechamentos, tendo ficado bem perto dos 123 mil no de anteontem, quando foi a 122.979,96 pontos, o melhor nível de encerramento desde 14 de janeiro (123.480,52 pontos). Após a recuperação de 6% em março e de 1,94% em abril, o índice da B3 segue a caminho do terceiro ganho mensal consecutivo.

“Houve uma descompressão nos preços dos ativos brasileiros desde fevereiro, quando estávamos entre os patinhos feios, em Bolsa e no câmbio. Em maio, estamos no Top 10 global, e com fundamentos muito bons: 77% das empresas que reportaram resultados do primeiro trimestre vieram em linha ou acima do esperado. As empresas estão conseguindo entregar resultados e o Brasil está sendo negociado a 10 vezes, contra 12,5 vezes da média histórica (para a razão preço/lucro). Houve avanço nos últimos 30 dias muito por conta do câmbio”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP, casa que projeta o Ibovespa a 145 mil pontos no fim de 2021.

“O Brasil ainda está muito barato, a expectativa é de lucro para o Ibovespa em 12 mil pontos, contra 4 mil do ano passado – e também bem acima do de 2019, então na faixa de 5,5 mil a 6 mil pontos. O índice brasileiro tem grande exposição, de 35% a 36%, em commodities, e o mercado segue comprador, com o avanço dos preços dos insumos”, acrescenta

Por outro lado, ele considera que o dinamismo da recuperação, mais contido nas últimas sessões, decorre do pico observado nos preços de commodities, como o minério de ferro, e o que poderá ocorrer se este ciclo virar. Ainda assim, Ferreira chama atenção para os preços das ações de Vale embutirem cotação do minério a US$ 120-130 por tonelada, bem abaixo do nível superior a US$ 200 observado na China – nesta quinta-feira, a tonelada fechou em queda de 1,99%, a US$ 211,85, no porto de Qingdao.

Além disso, o estrategista destaca que a aproximação do momento de iniciar a discussão sobre a retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos, sinalizada ontem de forma ainda muito cautelosa na ata do Federal Reserve, tem potencial para trazer volatilidade ao mercado à medida que avançar. Em Brasília, embora ainda não tenha causado efeito sobre os preços dos ativos, a CPI da Covid no Senado está sendo monitorada com atenção pelo mercado, especialmente quanto a efeitos sobre as pautas de interesse no Congresso, acrescenta Ferreira.