O investidor brasileiro tem tido cada vez mais acesso ao mercado internacional. Através dos BDRs negociados na B3, dos fundos de investimento no exterior oferecidos pelas diversas plataformas ou até mesmo por meio da abertura de contas diretamente em corretoras fora do País, o mercado internacional vem deixando de ser um privilégio dos investidores com maior quantidade de recursos. Esse movimento é extremamente positivo, pois proporciona ao investidor uma gama muito mais completa de alternativas de investimento. A cada dia, as oportunidades do mercado financeiro brasileiro ficam cada vez menos restritas ao que acontece com a moeda, os juros locais ou o índice Bovespa.

Por estar há muitos anos acostumado a ter acesso somente aos ativos locais, a nova oferta de produtos internacionais pode até, no primeiro momento, confundir o investidor. A XP, com seu habitual pioneirismo, distribui hoje mais de 100 fundos internacionais na sua plataforma. A Avenue Securities, entre outras, oferece acesso direto e simples aos ativos negociados em bolsas internacionais: basta abrir a conta e fazer uma transferência em reais para poder começar a operar, sem mínimos. Em outubro do ano passado, a CVM finalmente permitiu que pequenos investidores também pudessem operar os BDRs (“Brazilian Depositary Receipts”, títulos representativos de ações de companhias estrangeiras, negociados em bolsa no Brasil), um mercado antes reservado a investidores dispostos a aportar mais de R$ 1 milhão. Hoje existem mais BDRs listados na B3 do que ações de empresas brasileiras. Qual caminho seguir?

A resposta é diferente para cada investidor. Para quem busca diversificação, e ainda não tem exposição aos mercados internacionais, alternativas de investimento que sigam os índices e que tenham baixa taxa de administração parecem ser o mais indicado. Nessa linha, os ETFs são imbatíveis. Importante considerar, no entanto, que os mercados de ações nos EUA estão nos mais altos patamares históricos, incentivados pelos estímulos fiscais e monetários. Nessa semana começa a temporada de divulgação de balanços, decisiva para determinar se o otimismo demonstrado pelo mercado até aqui ainda tem pernas. A julgar pelos bancos, sempre os primeiros a publicar resultados, o momento da economia continua positivo. O investidor que quiser entrar agora, porém, precisa estar consciente de que, com o índice S&P500 acima dos 4.000 pontos, o potencial de subida é mais limitado. Além disso, surpresas negativas, principalmente do lado da inflação, podem provocar bastante volatilidade. É fundamental dimensionar a quantidade a ser investida e comprar aos poucos, fazendo preço médio e aproveitando momentos de correção de mercado.

Para os investidores mais estudiosos, as alternativas são inúmeras. Considerando o ambiente potencialmente mais inflacionário, nossa impressão na Picea é que o movimento de ajuste da curva de juros americana teve uma pausa, mas está longe de estar encerrado. O pacote de infraestrutura proposto pela administração de Joe Biden pretende colocar mais US$ 2 trilhões na economia e, considerando que o pacote de aumento de impostos proposto deve sofrer bastante resistência, inclusive dos próprios democratas, esses investimentos deverão ser financiados através do aumento da dívida publica – o que, por sua vez, indica mais pressão ainda na curva de juros.

Em geral, o momento indica que as empresas que dependem agressivamente de crescimento futuro devem patinar. E serão, provavelmente, alvo de muita volatilidade e correções de preço pelo caminho. Na minha opinião, o investidor deve buscar oportunidades e obter os melhores retornos em Big-tech e value investing. Na miríade de alternativas que se abriram aos brasileiros, o primeiro filtro necessariamente passa por aí. Ao decidir entre fundos, aplicações diretas em ações através de corretoras e BDRs, o investidor precisa ficar extremamente atento aos custos. Taxas de administração e de câmbio, e a liquidez expressa no spread entre ofertas de compra e venda são relevantes.

Outro ponto a observar é o custo de oportunidade. Para quem está alocado em ativos de risco no Brasil, sair agora para investir no exterior pode significar perder a potencial recuperação dos preços, tanto dos ativos quanto do câmbio, que segue bastante desvalorizado apesar da alta de preço das commodities. Com a alta do mercado aqui nos EUA, já se começa, timidamente, a falar em alocações para mercados emergentes. Qualquer aceleração no processo de vacinação – além de tendências menos negativas no lado fiscal – deverão atrair capital especulativo estrangeiro e provocar uma revalorização dos ativos brasileiros.

Vale a pena entrar agora? Sempre vale a pena se a alocação é cuidadosamente estudada. Antigamente, o problema do investidor que sonhava com o acesso ao mercado internacional era exatamente esse: o acesso. Hoje, essa situação foi resolvida. O desafio agora, e cada vez mais, é identificar qual instrumento e quais setores são os mais indicados para investir. Espero que esse blog ajude nessas escolhas – seja no mercado brasileiro ou em qualquer outro país.