Na véspera do vencimento de opções sobre o índice, o Ibovespa parecia ter estacionado nesta terça-feira, 11, nos 103 mil pontos pela segunda sessão, em dia que se mostrava modorrento, com variação de pouco mais de 1.000 pontos entre a mínima e a máxima na ausência de catalisadores, especialmente domésticos, que o conduzissem mais acima ou de fatores que o induzissem a uma realização abaixo da resistência dos 105 mil pontos. Contudo, depois de 16h, acompanhando guinada negativa em Nova York, o índice de referência da B3 perdeu sustentação, chegando a 102.174,26 pontos na mínima da sessão, às 16h53, com máxima a 104.408,92 pontos, pela manhã. Ao final, mostrava queda de 1,23%, a 102.174,40 pontos, praticamente no piso do dia, com perda de 0,58% na semana e de 0,72% no mês – no ano, cede 11,65%.

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Petrobras (PN -1,58% e ON -1,70%) e bancos (BB -1,45% e Santander -1,81%), que operavam no azul mais cedo, passaram a acentuar perdas, retirando o suporte que proporcionavam ao Ibovespa na sessão. Destaque também para queda de 3,09% em Vale ON, a quarta maior desta terça-feira entre os componentes do índice. Na ponta negativa, Cosan caiu 3,43%, seguida por Braskem (-3,25%) e Sabesp (-3,15%), com Gol (+8,45%), Azul (+7,07%) e CVC (+6,54%) no lado oposto, em dia de anúncio da Rússia sobre a conquista de vacina para a Covid-19, talvez um passo em direção à normalização da vida, pós-pandemia. O giro financeiro da sessão totalizou R$ 28,6 bilhões.

Levando consigo o Ibovespa, a reviravolta em Nova York foi atribuída a comentários do líder republicano no Senado, Mitch McConell, indicando estar travada a negociação com os democratas sobre nova rodada de estímulos fiscais nos EUA. Ao fim, os três índices de NY fecharam no negativo, com destaque para perda de 1,69% no Nasdaq que, desde mais cedo, flertava com ajuste negativo na sessão, enquanto o S&P 500, que parecia se reaproximar de terreno recorde, ao fim mostrou baixa de 0,80%. A expectativa para o anúncio do nome da vice na chapa democrata de Joe Biden à eleição do novembro nos EUA também pode ter contribuído para a cautela perto do fim da sessão. Com o pregão aqui já encerrado, foi anunciado que a vice será a senadora Kamala Harris.

“O segundo semestre tende a ser mais volátil, com a eleição americana, que passa a ser o foco de todos”, observa Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante. “Por aqui, está faltando um norte claro para o investidor – algum movimento que balance, para cima ou para baixo”, acrescenta. “Os balanços do segundo trimestre não foram um mar de sangue, mas a recuperação da economia anda devagar no Brasil, diferentemente do que acontece nos EUA, onde já se observa retomada do emprego, com geração de vagas.”

Alguns fatores domésticos, como a confirmação na ata do Copom da possibilidade de juros ainda menores nos próximos meses, e, no exterior, a indicação de que vacinas contra a covid-19 podem estar disponíveis antes do que se antecipava, são um alento para uma parte dos analistas. Na ata do Copom, veio a confirmação de que a porta segue aberta para Selic a 1,75% ao ano, o que implica juros reais negativos ou muito perto disso, um fator que favorece o prosseguimento da migração de recursos para a renda variável.

“Além disso, os balanços do segundo trimestre não vieram tão ruins quanto se temia, e alguns setores, mais correlacionados ao PIB, como o de concessionárias de rodovias, já mostram recuperação (de fluxo de tráfego). A retomada tende a se acentuar com juros ainda mais baixos, estimulando segmentos como o da construção”, aponta Marcel Zambello, analista da Necton, acrescentando que uma realização de até 3% seria natural para o Ibovespa, considerando a progressão observada no índice desde abril.

“No exterior, as bolsas já estão retornando a níveis pré-pandemia, antecipando uma recuperação em V para a economia global”, diz Zambello, observando também que, ainda que questionada, a vacina da Rússia é um progresso, no sentido de que pode vir acompanhada por outras vacinas, “quem sabe ainda neste terceiro trimestre, antes do que se antecipava”.