Na penúltima sessão do mês, o Ibovespa resistiu ao teste dos 115 mil pontos (114.999,15 na mínima do dia) e retomou a linha dos 116 mil ainda pela manhã, pouco antes da 11 horas, para não mais deixá-la até o encerramento, em alta de 1,24%, a 116.849,67 pontos, apesar do dia negativo em Nova York e para o petróleo, com a normalização da passagem pelo canal de Suez. Nesta terça-feira, em quarto ganho consecutivo, o índice atingiu o maior nível de fechamento desde 19 de fevereiro (118.430,53 pontos), indiferente ao aumento da temperatura em Brasília, em meio à repentina troca de comando das Forças Armadas por iniciativa do presidente Jair Bolsonaro.

Em março, faltando apenas a sessão da quarta-feira, 31, o Ibovespa acumula ganho de 6,19%, limitando as perdas do ano a 1,82%. Na máxima desta terça, o índice da B3 foi aos 117.090,07 pontos, maior nível intradia desde 22 de fevereiro (118.388,07). O giro, ainda relativamente acomodado, foi a R$ 33,0 bilhões nesta sessão.

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“No Brasil, a reforma ministerial sinaliza mais proximidade do governo com o Congresso, o que agrada, em um cenário fiscal ainda complicado. Com isso, o real performou bem, favorecendo o Ibovespa desde a manhã, assim como a perspectiva de aceleração da vacinação e de reabertura gradual da economia”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos. “O real teve desempenho mais forte, na contramão dos pares emergentes, como rublo e peso mexicano. Os yields dos Treasuries de 10 anos seguiram pressionados por temores relacionados à inflação nos EUA, que poderia interferir na política monetária estimulativa, no médio prazo.”

Assim, descolado do dia moderadamente cauteloso em Nova York após o blue chip Dow Jones ter renovado máxima histórica no dia anterior, a proximidade do fim de mês e trimestre, na quarta, suscitou um ajuste nas carteiras, favorecendo as compras de ações, com diversas ofertas de desconto.

Na B3, o desempenho negativo dos papéis ligados a commodities nesta terça-feira (Petrobras ON -0,30%, Vale ON -0,93%) foi compensado com folga pelo avanço das ações de bancos (BB ON +3,09%, Bradesco ON +2,35%) e de siderurgia (Gerdau PN +1,59%, CSN +1,21%). Na ponta do Ibovespa, Embraer fechou em alta de 9,30%, à frente de Gol (+8,56%) e Azul (+6,94%). No lado oposto, Suzano cedeu 3,31%, PetroRio, 2,26%, e Klabin, 1,08%.

A leitura amena do mercado sobre o afastamento dos comandantes de armas decorre da percepção, nas palavras de um gestor, de “cortina de fumaça, mais uma”, do presidente Bolsonaro para desviar atenção dos problemas reais, relacionados à fraca economia e à dificuldade em lidar com a pandemia, em momento no qual ainda disputa protagonismo com governadores, especialmente o de São Paulo, João Doria (PSDB). A expectativa é de que mesmo sob novo comando, ainda que mais alinhado ao Planalto, as Forças Armadas preservarão seu papel institucional, dissociado da política. O afastamento simultâneo dos três chefes das forças, contudo, é considerado sem precedentes, no que configuraria a maior crise entre poder civil e militar desde o início da redemocratização, em 1985.

Ainda assim, mais do que à cena político-institucional, a atenção do mercado segue concentrada na situação fiscal, especialmente após a aprovação do controverso Orçamento para 2021, com subestimação de despesas de custeio para encaixar emendas propostas por parlamentares. Nesta terça, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um apelo ao governo e parlamentares para que os acordos caibam nos orçamentos. “O nosso apelo final é para que os acordos políticos caibam nos orçamentos públicos”, disse Guedes durante apresentação dos dados do Caged de fevereiro, acima do esperado, o que mais uma vez contribuiu para desempenho positivo do Ibovespa.

Por sua vez, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), admitiu nesta tarde a possibilidade de o Congresso abrir mão de emendas parlamentares para cumprir o Orçamento deste ano. Ele afirmou, porém, que o projeto aprovado na semana passada foi negociado com o governo do presidente Jair Bolsonaro e que ainda é preciso avaliar a necessidade de manutenção ou alteração. A equipe econômica aponta a necessidade de cortes para cumprir o teto de gastos neste ano.