B3. A empresa resultante da fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip, que foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no dia 22 de março, é grande sob qualquer métrica. Com um valor de mercado de R$ 40 bilhões, ela será a quinta maior empresa do setor, perdendo apenas para as concorrentes de Nova York, Chicago, Londres e Frankfurt. Segundo Gilson Finkelsztain, ex-CEO da Cetip e que vai presidir a nova companhia a partir de 28 de abril, o processo de integração deverá estar concluído em até 18 meses.

“A estimativa é de que as sinergias serão de R$ 100 milhões a partir do terceiro ano”, diz ele. Edemir Pinto, que permanece na presidência da B3 até o fim de abril, avalia que a nova entidade vai desenvolver novos produtos para o mercado doméstico e acelerar o passo de internacionalização, mirando os vizinhos. “Já temos participações nas bolsas da Colômbia e do Chile, e vamos observar com atenção a consolidação do mercado na Argentina”, diz ele. A marca B3 é a abreviação de Brasil Bolsa Balcão, resumo das atividades da nova empresa.

Bolsa de Londres: autoridades da Comissão Europeia impediram fusão com a bolsa alemã
Bolsa de Londres: autoridades da Comissão Europeia impediram fusão com a bolsa alemã (Crédito:Jens Kalaene)

A fusão demorou quase um ano para ser aprovada pelo Cade, e foi considerada uma vitória épica de Edemir, que começou o processo de consolidação do mercado ao costurar a união entre Bovespa e BM&F em 2008. O que atrasou a batida do carimbo foi a formação de um monopólio responsável pela totalidade dos negócios com ações, títulos de renda fixa, câmbio e derivativos do Brasil. Para atenuar essa predominância, o Cade determinou que a B3 terá de prestar serviços de liquidação e custódia de transações aos interessados que quiserem disputar uma fatia do mercado.

Explicando: a parte “simples” de criar uma nova bolsa para concorrer com a B3 é montar um sistema para divulgar os preços das ações oferecidas à venda. Prestar os demais serviços é mais complexo. A custódia é a tarefa de registrar qual investidor – seja um indivíduo, um fundo ou a tesouraria de um banco – possui cada um dos milhões de ativos do mercado. Para acompanhar essa massa de informações é preciso despejar um capital parrudo em sistemas, o que funciona como uma barreira natural à entrada de concorrentes. Já liquidar as transações, ou seja, entregar as ações ao comprador e o dinheiro ao vendedor, é ainda mais delicado.

DIN1012-bovespa3A Bolsa sempre garantiu que as transações seriam honradas. Para fazer isso, é preciso deixar dinheiro guardado. Muito. “Temos R$ 2,5 bilhões em caixa”, diz Edemir. Essas barreiras fizeram bolsas eletrônicas internacionais, como Bats e Direct Edge, desistir de entrar no Brasil. Elas sondaram o País nos tempos de euforia do fim da década passada, mas o tamanho do gasto desanimou seus investidores. A B3 confirmou que já recebeu consultas de interessados, mas não fez mais comentários. Afusão entre BM&FBovespa e Cetip insere-se em uma onda de consolidação do setor. Os grandes compradores têm sido as empresas que controlam a Bolsa de Nova York, as bolsas de Chicago e a Bolsa de Londres.

No entanto, esse movimento sofreu um revés na quarta-feira 29, quando as autoridades da Comissão Europeia, em Bruxelas, vetaram o processo de fusão entre a bolsas de Londres e a de Frankfurt, que domina os mercados alemão, suíço e os de diversos países do Leste Europeu. A fusão criaria um monopólio na liquidação de operações de renda fixa, afirmou Margrethe Vestager, comissária europeia responsável pela análise de práticas anti-concorrenciais.Foi a segunda vez que a bolsa alemã ficou no altar. Em 2012, as mesmas autoridades haviam barrado uma associação com a Bolsa de Nova York.