Os números não poderiam ser piores. Impactado pela crise mundial causada pelo coronavírus, o Ibovespa fechou o primeiro trimestre deste ano com perda de 36,86%. Nunca o principal índice da B3 havia sofrido tamanho tombo nos três primeiros meses de um ano. Apenas em março, o Ibovespa despencou 29,9%, amargando seu pior desempenho para o mês nos últimos 22 anos. Na terça-feira 31, a Bolsa terminou o dia com queda de quase 2,2%, pouco acima dos 73 mil pontos. No dia seguinte, mais um tombo: caiu 2,8% e fechou em 71 mil.

O movimento negativo foi visto em diversos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, os índices Dow Jones e Nasdaq recuaram, ambos, 4,4% na quarta-feira 1º. A percepção de que a maior economia do mundo já pode estar entrando em recessão, devido à pandemia, assustou investidores de todo o planeta. O Brasil não poderia passar incólume. Na segunda-feira 30, a ONU divulgou relatório em que cita um “impacto econômico sem precedentes”, em consequência da crise global do coronavírus. Entre as nações que serão mais afetadas, a entidade destaca as emergentes, grupo no qual o País está inserido. Sob clima de insegurança e pessimismo, os investidores estrangeiros estão tirando dinheiro desses mercados. O Brasil já sente os efeitos do movimento. Em apenas um mês – de 21 de fevereiro a 20 de março –, a economia nacional perdeu US$ 7 bilhões (mais de R$ 35 bilhões). O mais preocupante é que a tendência é de que, com o agravamento da Covid-19 pelo planeta – sobretudo, no Brasil –, a queda continue.

O imparável Bolsonavírus

Fábio Pupo

Dia sim, dia também, o presidente do Brasil fala ou faz algo que constrange qualquer cidadão lúcido. Ainda mais se considerarmos a crise causada pelo coronavírus. Aos fatos. No sábado 28, o governo divulgou nota negando a existência da campanha “O Brasil não pode parar”, que a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) havia postado nas redes sociais. O problema foi que a Justiça Federal proibiu o governo de divulgar a campanha, que incentivava as pessoas a quebrar o isolamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. Após a decisão judicial, Bolsonaro, tal qual garoto perdido, correu para tentar esconder a bobagem que fizera. Era tarde. No dia seguinte (domingo 29), o presidente cometeu a irresponsabilidade de circular pelas ruas de Brasília. Visitou estabelecimentos comerciais e cumprimentou pessoas, contrariando as recomendações da OMS e do próprio Ministério da Saúde, para que os indivíduos fiquem em casa e evitem aglomerações. Ele achou pouco e publicou, nas redes sociais, um vídeo do seu passeio. Acabou passando pela vergonha global de ter seu post deletado por Twitter, Facebook e Instagram. Em nota, o Facebook informou que apagou o vídeo do presidente do Brasil por não permitir “conteúdo com desinformação que possa causar danos reais às pessoas”. Não acabou. Na terça-feira 31, Bolsonaro e sua turma cometeram mais uma idiotice, ao capturar trecho de uma entrevista concedida pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e afirmar que o órgão estava concordando com a volta das pessoas ao trabalho – ideia defendida pelo presidente. Mais uma humilhação: via Twitter, Ghebreyesus rechaçou a insinuação e reafirmou a necessidade de as pessoas se manterem em quarentena. Para terminar, na noite da terça-feira 31, o mandatário brasileiro fez mais um dos seus pronunciamentos em cadeia nacional, no qual mudou o tom do discurso que fizera apenas uma semana antes. Em vez de chamar o coronavírus de “gripezinha”, o presidente do País disse o que o mundo inteiro sabe há meses: “Estamos diante do maior desafio dessa geração”. E enquanto o mundo trava uma árdua guerra contra a Covid-19, o Brasil ainda precisa enfrentar os efeitos nocivos do Bolsonavírus.

“Se o comércio reabrir agora, não vai ter cliente. Estou pedindo para as pessoas terem calma” Luiza Trajano, empresária e presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. (Crédito:Divulgação)

A crise (sem fim) da CVC

Divulgação

Maior operadora turística da América Latina, a CVC segue seu calvário. Na terça-feira 31, a empresa divulgou seu balanço não auditado de 2019, mas sem apresentar detalhes por trimestres. A companhia destacou que observou erros contábeis de R$ 250 milhões, descobertos recentemente e assumidos pela própria direção, há cerca de um mês. De acordo com informações preliminares, a CVC registrou lucro líquido de R$ 187,6 milhões no ano passado, indicando uma tímida queda, de pouco mais de 2%, em relação aos R$ 191,7 milhões de 2018. A operadora até teve aumento de 5,2% em relação ao faturamento líquido de 2018 (passou de R$ 1,47 bilhão para R$ 1,55 bilhão), mas nem isso ajudou a empresa a retomar a confiança do investidor e as ações caíram quase 15% na própria terça-feira e outros 15% na quarta-feira 1º. Foi apenas mais um passo no sofrido caminho que a CVC tem percorrido desde o início deste ano. Com o caos que o coronavírus tem produzido em todo o planeta, os setores de turismo e viagens estão entre os mais impactados. Além disso, a companhia também pena com as complicações internas já citadas. O gráfico da CVC na Bolsa ilustra bem esse cenário. Do início deste ano até a quarta-feira 1º, as ações despencaram de R$ 45 para R$ 9,40, um tombo de quase 80%. E os analistas acreditam que a operadora ainda enfrentará muita dificuldade para voltar aos bons tempos.

Hypera aprova emissão de R$ 3,5 bilhões em debêntures

Maior empresa farmacêutica do País, a Hypera Pharma anunciou, na segunda-feira 30, que emitirá debêntures no valor de R$ 3,5 bilhões, não conversíveis. Ao todo, serão negociados 350 mil papéis – cada debênture terá o valor nominal de R$ 10 mil. A primeira emissão corresponderá a um valor de quase R$ 2,5 bilhões, da primeira série, e R$ 1 bilhão da segunda. Na primeira, os papéis terão um período de maturação de seis anos a partir da emissão, com vencimento em 3 de abril de 2026. O prazo de maturação é o mesmo para as debêntures da segunda série, mas não houve definição de data para a emissão nem para o vencimento. Nas duas séries, os papéis serão remunerados com taxas de juros diárias interbancárias, acrescidas de um spread de 1,5%. Em comunicado, a companhia informou que os detentores das debêntures serão pagos duas vezes por ano, com o primeiro previsto para ser realizado em outubro deste ano.

Justiça destina R$ 109 milhões em multas da Vale para Brumadinho

Douglas Magno

A Prefeitura de Brumadinho, em Minas Gerais, receberá quase R$ 109 milhões de multas ambientais aplicadas à Vale, em conse-quência da tragédia ocorrida no início do ano passado e que deixou cerca de 300 mortos. A decisão partiu da juíza Perla Saliba Brito, da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Brumadinho. Tornado público na segunda-feira 30, o acordo já foi homologado e determina que a verba seja aplicada na execução de obras e iniciativas de infraestrutura em Brumadinho. Entre os setores nos quais o dinheiro pode ser investido estão saúde e meio ambiente, desde que estejam direta ou indiretamente relacionados ao rompimento da barragem. A juíza Perla Brito determinou, ainda, a proibição de que a verba seja utilizada para reparar danos diretos decorrentes do rompimento da barragem, ressaltando que a Vale já está obrigada, por sentença judicial, a financiar toda a recuperação ambiental da região atingida.