O Ibovespa retornou ao patamar de 120 mil pontos na última semana de março, mostrando que a bolsa brasileira segue descolada dos pregões internacionais. Para os analistas, o que vem sustentando essa valorização são as ações das empresas de commodities. Esses papéis vêm surfando na onda do aumento de preços devido à alta das cotações internacionais e ao aumento da demanda após o início das hostilidades na Ucrânia. Além disso, papéis de boas qualidades ainda estão baratos quando comparados a seus pares, o que mantém a atratividade da bolsa.

Segundo o analista da Mirae Asset Pedro Galdi, a valorização de 28% nas ações da Vale e de 15% nos papéis da Petrobras sustentam a valorização de 15% do Ibovespa no acumulado do ano. “O peso dessas empresas é alto no índice. E eles subiram por causa dos novos aumentos das commodities após o início da guerra”, disse Galdi. No entanto, outros papéis do setor vêm apresentando desempenhos inferiores. Por exemplo, as ações da Gerdau subiram 11% e as da CSN avançaram 6%, bem menos que o índice. “Ainda há muitas pechinchas, que devem merecer mais atenção quando a economia se recuperar”, afirmou. “As empresas de proteína animal, que vêm registrando bons lucros e se beneficiam de uma demanda forte, não têm se comportado tão bem assim”, afirmou o especialista.

Para o analista-chefe da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, a pandemia mudou os parâmetros para os investimentos. “Empresas mais afetadas pelo fechamento de lojas e pelo aumento das taxas de juros devem se recuperar mais rapidamente, com o relaxamento das restrições”, afirmou. Segundo a corretora, as empresas de turismo são promissoras. “A CVC, por exemplo, sofreu bastante com o cancelamento de viagens. Mas deve ser recuperar neste ano.” Siqueira afirmou que as commodities estão indo bem de forma geral e isso deve continuar, mas esse cenário já está refletido nas cotações.

Regis Filho

“Depois de olhar bancos e mineradoras, os investidores estrangeiros devem começar a observar outros setores, e a caça às pechinchas vai continuar” Pedro Galdi analista de investimentos da Mirae Asset.

OPORTUNIDADES Commodities, aço e proteínas são setores óbvios, até pelo cenário internacional. Porém, também há oportunidades no varejo, que amargou o fechamento de lojas na pandemia. Apesar da alta dos juros, a recuperação econômica segue sustentando papéis como Carrefour, que subiu 42% neste ano, Petz com 17% de alta, e Renner, com 15%. “Na caça às pechinchas as varejistas chamam atenção do investidor, com entrada de novos recursos como a antecipação de 13º salário do funcionário público”, disse Galdi. As ações de bancos também prometem bons retornos, por serem bastante negociadas e, por isso, interessantes para os investidores estrangeiros. No ano, Itaú Unibanco subiu 33%, a holding Itaúsa, o Banco do Brasil e o Santander subiram ao redor de 24% e as ações da própria B3 avançaram 42%. Já a indústria tem reagido mais lentamente. Empresas como Weg e Randon avançaram cerca de 4%.

Há setores a evitar? Quem não deve reagir tão cedo são as incorporadoras. As vendas de imóveis dependem do crédito, e a alta de juros afeta muito os negócios. As empresas de educação também são pouco promissoras, pois a digitalização crescente exige investimentos pesados.Enquanto isso, as chuvas abundantes trouxeram um refresco para as empresas de energia elétrica, importantes no índice. Equatorial subiu 22%, Taesa avançou 21% e Cemig se valorizou 15%. E as tarifas continuam alta, engordando os caixas dessas companhias. “O capital estrangeiro continua vindo. Depois de olhar bancos e mineradoras, os investidores de fora devem começar a observar outros setores, e a caça às pechinchas vai continuar sustentando a alta da B3”, afirmou Galdi.