Imagine-se em casa na noite de um domingo, em São Paulo ou no Rio, sabendo que uma série de reuniões o aguarda no dia seguinte em Nova York. Um dia depois sua agenda prevê encontros em Paris. Mais um dia e você estará em salões de Tóquio, e, em seguida, decolará em direção a Los Angeles. Na quinta-feira estará de volta, a tempo de jantar e dormir em casa. Insuportável? Não para todos. A Boeing lançou um jato executivo que torna perfeitamente possível e confortável uma epopéia como essa. Chamá-lo de jato executivo, aliás, é quase uma impropriedade. O Boeing Business Jet (BBJ) é um 737-700, do tipo que as linhas aéreas comerciais usam para vôos internacionais. Sem as fileiras de cadeiras que atulham um jato comercial, o avião vira quase um apartamento de asas. São 75 metros quadrados de área interna, que, no BBJ, podem ser divididos e decorados segundo o gosto do dono. O conforto é o de um hotel cinco estrelas, mas sem a impessoalidade da hospedagem.

O brinquedo anda fascinando príncipes árabes e milionários americanos. Em dois anos, já há 54 jatos voando pelo mundo.
No Brasil, porém, ainda não há nenhum. Quem quiser se
candidatar a ser o primeiro brasileiro a ter um 737 particular terá que desembolsar US$ 39 milhões só para a construção do avião. Depois de pronto, o jato será enviado para uma das cinco empresas de acabamento indicadas pela Boeing, quando será transformado em um misto de apartamento privado com escritório voador. É quando são feitos o acabamento e a decoração internos. Essa fase também exige um orçamento folgado. Costuma custar em média US$ 12 milhões, mas nunca sai por menos de US$ 10 milhões. Mas não é preciso ter todo o dinheiro na conta corrente. A Boeing financia a compra. Basta ter crédito.

 

A comparação com outros jatos executivos prova que o BBJ é praticamente um bicho de outra espécie. O mais badalado dos jatinhos, o Gulfstream, costuma se impor pela velocidade e pelo prazer que dá a quem o pilota. Mas é estreito e baixo, o que mal permite que um passageiro fique em posição ereta no corredor central da cabine. Se fosse um carro, seria um Porsche. Já o BBJ seria uma ampla limusine. Cada proprietário arruma o seu como quer, mas a regra geral é que haja uma confortável suíte de casal no fundo da aeronave. O dono dorme ali como se estivesse na intimidade da própria casa. É comum também haver um escritório vizinho, que pode ser usado como segundo quarto. O restante da cabine normalmente é mantido sem divisórias e arrumado de forma a comportar uma sala de estar e uma de reunião, que pode ser convertida em sala de jantar. Mesmo quem voa a convite do proprietário pode dormir nessa sala com conforto, em poltronas tão amplas como as da primeira classe das melhores companhias aéreas. Na hora H, porém, a experiência prova que os donos quase sempre viajam com apenas um acompanhante. Muito romântico.