Agora oficializado como presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) deve realizar uma série de acenos para manter a boa relação com o mercado. Durante o período eleitoral, o “namoro” foi cultivado com declarações e atos do ex-militar, como a nomeação de Paulo Guedes e promessa de autonomia do Banco Central, respondidas pelos investidores com o maior fluxo cambial e a queda do dólar.

No primeiro dia de expediente após as eleições, a moeda norte-americana abriu em baixa acentuada de 1,88%, chegando a cotação de R$ 3,59. A tendência, segundo analistas, é da valorização do real nas próximas semanas, caso Bolsonaro mantenha a mesma postura prometida na campanha eleitoral.

O sócio diretor da Ativa Investimentos, Arnaldo Curvello, afirma que a nomeação dos principais nomes da equipe econômica será o primeiro passo para a manutenção do bem estar das relações entre o futuro presidente e o mercado financeiro. A expectativa é de que Bolsonaro revele o time técnico ainda nesta semana.

“O discurso dessa equipe econômica deve traduzir o desejo do mercado”, ressalta o analista. Esse desejo, afirma ele, é carregado principalmente pela reforma da Previdência, o controle do déficit fiscal através do ajuste de contas e o início de uma agenda de privatizações. “Depois é preciso que a equipe coloque esse discurso em prática. Essa é a parte mais difícil, mas também a mais importante”, afirma.

Caso tudo flua conforme o planejado, o analista projeta uma queda mais significativa da moeda norte-americana, atingindo patamares próximos a R$ 3,20 ainda neste ano. “São como etapas de um jogo. Cada barreira pulada contribui para a melhora do risco-país”, ressalta.

Futuro ministro adia reforma da Previdência

Nesta segunda-feira (29) o provável ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, descartou a possibilidade de pressionar para que a reforma da Previdência saia ainda este ano. Em diversas entrevistas, ele ressaltou que o futuro governo não concorda com os termos propostos por Michel Temer e que a nova gestão deverá fazer mudanças no projeto.

Para o diretor de renda variável da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, a sinalização de Lorenzoni afasta a possibilidade de Michel Temer aprovar a reforma ainda em seu mandato. “O Temer quer fazer a reforma para poder sair do governo no seu auge. A reforma é possível, mas pouco provável”, afirma.

A escolha de ministros e nomeações com base em capacidade técnica, e não por indicação partidária, prometida por Bolsonaro ao longo da campanha, também chamou a atenção dos investidores. Segundo Madruga, caso o capitão reformado transforme esse discurso em ação, os laços com o mercado financeiro continuarão estreitos.

Paciência tem limite

Apesar de os sinais indicarem a continuidade das boas relações, os analistas também trabalham com a possibilidade de um estremecimento. Para Curvello, o “período de teste” do governo federal não deve se expandir para além do primeiro trimestre do próximo ano. “Um discurso alinhado entre as duas partes vai comprando mais tempo. Ao longo deste período, o governo precisa alimenta a expectativa com pequenos ganhos.”

O representante da Monte Bravo também concorda com o período histórico de 100 dias de governo. Nesse meio tempo é necessário que a nova equipe prove a que veio, principalmente em relação ao Legislativo. “O Congresso está com um viés mais conservador, mais propenso a ampla discussão das reformas que o Brasil precisa”, diz.