Já faz alguns meses que os estivadores vêm constatando um aumento no volume de navios atracados e de containeres desembarcados nos principais portos brasileiros. São reflexos das importações que não param de crescer. De janeiro a meados de setembro, a alta acumulada é de cerca de 8% em relação ao mesmo período de 2016, a primeira expansão após quatro anos consecutivos de queda. Trata-se de um movimento puxado pela retomada do mercado interno e pela valorização do real frente ao dólar, tornando mais barata a mercadoria fabricada no Exterior. Normalmente taxadas de vilãs pela indústria nacional, desta vez as importações estão sendo comemoradas por estarem concentradas em máquinas e matéria prima, e não em bens de consumo.

Os dados do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) não deixam dúvidas. Depois de recuarem 20,1% em 2016, na comparação com o ano anterior, para US$ 137,6 bilhões – uma queda quase cinco vezes maior que a vista nas exportações (-3,5%) –, as compras do exterior demonstram sinais de retomada. Entre janeiro e a quarta semana de setembro, houve crescimento de 8%, totalizando US$ 108 bilhões, segundo balanço divulgado na segunda-feira 18, pelo Mdic. “O câmbio está estável e num patamar atraente para a importação”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Os empresários estão se sentindo confortáveis e até estimulados a voltar a importar.” O dólar comercial, que iniciou o ano cotado a R$ 3,28, registrou uma desvalorização de 4% até o momento, atingindo o patamar R$ 3,15.

Na década passada, o aumento das importações foi visto como algo prejudicial para empresas. Enquanto a economia brasileira brilhava, os produtos chineses baratos invadiam o mercado interno, sufocando a indústria nacional. Desta vez, no entanto, a entrada de itens estrangeiros se dá no segmento de bens intermediários. São insumos essenciais na produção de outros bens. De janeiro a agosto, a participação de bens intermediários nas importações saltou de 11% para 63%. Entre os itens mais adquiridos, em valores, foram aparelhos transmissores ou receptores e componentes e circuitos integrados. Por volume, são óleos combustíveis e naftas (leia quadro ao final da reportagem).

Ainda falta: máquina importada é usada na fabricação de metais leve. Compra de equipamentos permanece fraca em 2017

Os Insumos importados estão aumentando sua participação na produção industrial brasileira desde meados do ano passado, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). De acordo com os dados mais recentes, no acumulado de julho de 2016 até junho de 2017, o coeficiente de penetração de importações, que mede a importância das compras externas para a produção, é de 23,1% (a preços constantes), ficando 0,4 ponto percentual acima do registrado em 2016 (janeiro-dezembro) e interrompendo a queda vista desde 2014.

As maiores altas do indicador foram registradas pelos setores de vestuário e acessórios, químicos, produtos têxteis, equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos e metalurgia. De acordo com a CNI e a Funcex, os dados demonstram que as indústrias estão apostando na retomada da economia, principalmente no final do ano. “As indústrias estão começando a comprar materiais para não serem pegas de surpresa com a burocracia”, afirma Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI. “Se eu uso insumos importados, eu preciso estar pronto para a burocracia.”

Apesar da notícia de que as indústrias estão se preparando para produzir em níveis maiores, graças à melhora de sua confiança em relação à situação do País, os dados mostram que este movimento ainda está restrito a poucos setores, como o automotivo, o de eletroeletrônicos e o de produção de insumos para agricultura, principalmente fertilizantes. Além disso, as importações não estão se traduzindo em ganhos de produtividade. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), as compras de máquinas estrangeiras cresceram 6,6% em agosto, na comparação com julho, a primeira expansão depois de 42 meses negativos.

Porém, no acumulado do ano, o segmento recua 23,4%. “Com tanta ociosidade, os industriais só vão voltar a investir fortemente quando realmente precisarem de novas máquinas”, diz Paulo Castelo Branco, presidente da Abimei. É um processo longo, mas os primeiros sinais vindos dos portos são alvissareiros. “Se está aumentando a importação é sinal de que ou a indústria está vendo um aumento da demanda ou está se preparando para um crescimento”, diz André Mitideri, economista da Funcex. Nos dois casos, o desfecho será um PIB maior.