Aos poucos, a multinacional holandesa Philips vai se convertendo em uma empresa de tecnologia voltada para o segmento de saúde. E o Brasil virou peça-chave nessa estratégia. Motivo: o software de gestão hospitalar Tasy, desenvolvido pela Wheb Sistemas, empresa catarinense comprada pela companhia em 2010, está ganhando o mundo. “Conseguimos posicionar o Tasy como produto global da Philips para gestão hospitalar. Ele já está sendo usado no México, na Colômbia, na Arábia Saudita, na Alemanha e, nos últimos dias, fechamos com um hospital da Nova Zelândia”, diz Renato Carvalho, CEO da Philips no Brasil. Para se ter uma ideia do tamanho dessa operação, basta comparar a força de trabalho aplicada no Tasy. São 800 profissionais na unidade de Blumenau (SC) desenvolvendo o software, enquanto na fábrica de Varginha (MG) estão 500 funcionários. Acompanhe:

Como tem sido o desempenho da Philips no Brasil?
Fechamos muito bem no ano passado. Tivemos crescimento de dois dígitos. Não divulgamos os números, mas posso dizer que foi o melhor ano da Philips da história no Brasil. Foi muito mais por recuperação e ganho de market share do que propriamente pelo mercado.

Mas o mercado não está reagindo?
O mercado começou a reagir. Você já vê grupos voltando a investir. Por outro lado, teremos eleições, que dá uma parada, e a variação do dólar, que traz um pouco de incerteza. No caso da Philips, estamos crescendo.

E em que setores a Philips voltou a crescer?
Olha, 70% do nosso negócio é B2B e 30% é B2C. A principal força e ganho da Philips tem sido no B2B e o B2C ainda está devagar. Dentro do B2B, 60% são negócios com a iniciativa privada e 40% com o poder público. O público ainda não demonstrou essa retomada. Então, efetivamente, o crescimento vem da iniciativa privada. E, quando olhamos com uma lupa, observamos que o crescimento vem, principalmente, de regiões fora do Sudeste. Crescemos muito no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

A que se deve isso?
Desenhamos um plano de, obviamente, focar nos mercados do Sul e Sudeste, mas dar mais atenção para as outras regiões que têm uma demanda maior por saúde em termos de acesso. A gente intensificou a atuação comercial e o pós-venda.

Mas como a empresa passou a ganhar mercado durante a crise que afeta o Brasil inteiro? Só aumentar equipe de vendas não adianta…
Há três anos, definimos uma estratégia de desenvolvimento de produtos de B2B mais adequados à realidade do Brasil. Isso quer dizer que a gente tem de ter um produto muito competitivo do ponto de vista de preço. Mas, ao mesmo tempo, não pode ser muito básico. E isso não é tão fácil. Temos duas fábricas no Brasil, uma de software em Blumenau (SC) e outra de hardware em Varginha (MG). Com isso, conseguimos desenvolver produtos mais assertivos. Desenvolvemos, por exemplo, um tomógrafo para o mercado local com uma excelente qualidade de imagem e com custo de acesso muito baixo.

O que seria esse custo de acesso muito baixo?
Esse aparelho custa em torno de US$ 250 mil. Um produto vendido no Exterior, com algumas diferenças, sairia US$ 300 mil. Também desenvolvemos um aparelho de ressonância magnética voltado para Brasil, Índia e China. É um equipamento que traz 30% a mais de produtividade do que o aparelho anterior. Na prática, você consegue fazer 30% mais exames no dia. Ele é mais caro, mas gera mais produtividade.

A Philips exporta esses equipamentos?
Por enquanto, exportamos apenas os produtos B2C da linha Avent para, por exemplo, o México. O que estamos exportando bastante é o nosso software de gestão hospitalar Tasy. Compramos essa empresa em 2010 e, na época, ela atendia 100 instituições no Brasil. Hoje, o Tasy é usado em mais de 1 mil clínicas e hospitais no País e contamos com mais de 800 funcionários trabalhando no desenvolvimento de software. Hoje, o maior centro da Philips na América Latina é o de Blumenau. A cidade se tornou o nosso “Vale do Silício”.

Mas o Tasy foi adotado em outros países?
Conseguimos posicionar o Tasy como produto global da Philips para gestão hospitalar. Ele já está sendo usado no México, na Colômbia, na Arábia Saudita, na Alemanha e, nos últimos dias, fechamos na Nova Zelândia. Está em franca expansão.

A tendência é intensificar os investimentos nessa área?
No ano passado, a Philips faturou € 18 bilhões globalmente. Dez por cento deste total, € 1,8 bilhão, foram investidos em pesquisa e desenvolvimento. E, pela primeira vez na história da empresa, 60% deste montante foram investidos em desenvolvimento de softwares.

O que os outros países viram no Tasy?
Softwares para gestão de saúde nunca foram alvos de empresas de tecnologia. A gestão da indústria da saúde é bastante atrasada. Se você pensar em como era um banco há 20 anos e como é hoje, é totalmente diferente. Hoje, você nem precisa ir até a agência, resolve tudo pelo celular. Já o hospital não mudou muito, é a mesma coisa. Mas essa é uma indústria com equipamentos de altíssima tecnologia e, obviamente, é muito mais complexa porque uma coisa é ter um erro numa transação bancária e outra coisa é ter um erro médico que pode causar a morte de uma pessoa.

(Nota publicada na Edição 1070 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Cláudio Gradilone, Gabriel Baldocchi e Márcio Kroehn)