O acúmulo de descompassos do governo Bolsonaro e as crescentes dificuldades em fazer andar a reforma da Previdência são temas uma reportagem publicada pela Bloomberg nesta quarta-feira (27). A série de entraves em apenas três meses de administração, muitos deles causados pelo próprio governo ou seus aliados, ganha destaque especial no texto.

Segundo a reportagem, aliados, mercado e investidores já começam a duvidar da capacidade do ex-capitão do Exército em cumprir as promessas de retomada do crescimento econômico, fomentação de emprego e redução das taxas de criminalidade no País.

O texto aborda a onda de otimismo que contagiou parte do mercado e da população nas primeiras semanas de gestão – como a valorização do real e da bolsa de valores -, e como essa expectativa é cada vez mais frustrada diante de polêmicas, intrigas e a falta de entendimento entre Bolsonaro e o Congresso Nacional.

“Para grande desgosto dos investidores que acreditam no ministro da Economia de Bolsonaro e amigo do mercado, Paulo Guedes, muitos dos problemas do governo não provêm da oposição, mas de suas próprias fileiras”, afirma parte da reportagem.

“Os membros do gabinete competem abertamente pelo poder; ideólogos de extrema-direita enfrentam os moderados e o próprio presidente age como se ainda estivesse em campanha, mobilizando sua base de apoio e torcendo a oposição com tuítes e vídeos provocativos”, diz outro trecho.

A Bloomberg entrevistou líderes políticos, empresários e analistas do mercado para traçar um parâmetro da situação. Para os consultados, o desenrolar da reforma da Previdência, a maior promessa de Bolsonaro no campo econômico, é essencial para manter a governabilidade.

“Se não aprovarmos essa lei, não haverá investimento, o Brasil irá à falência e o desemprego voltará”, afirma Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamentos Havan. “As pessoas não serão enganadas pela política.”

A Bloomberg ainda destaca a influência dos filhos do presidente, em especial o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), na gestão do País e como essa relação gera atritos ao governo. Um dos exemplos é a tensão criada com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que em resposta afirmou que o presidente “precisa gastar mais tempo com a reforma previdenciária e menos com o Twitter”.

“O que Bolsonaro precisa fazer é deixar o toco da campanha, ele precisa mostrar quem está no comando, em casa e no governo”, afirmou a senadora Simone Tebet (MDB), presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado.

A Bloomberg afirma que procurou a assessoria de Bolsonaro, mas não obteve respostas.