A ideia de que algoritmos e outros recursos tecnológicos para análise de big data conseguem processar uma grande quantidade de informações sobre as pessoas e, assim, conhecer seus gostos, hábitos, medos, desafetos e preferências, é notadamente conhecida no contexto das redes sociais e nos ambientes exclusivamente digitais. Essas novas tecnologias, contudo, ganharam protagonismo também em setores onde as relações pessoais são presenciais e interdependentes — como no mundo do trabalho.

A gestão de pessoas, atribuição da área de recursos humanos, deixou de ser operacional e passou a ter um papel estratégico nas empresas. E a utilização dos recursos tecnológicos dentro das organizações para desvendar o perfil dos profissionais tem obtido ganhos notáveis. As ferramentas disponíveis para auxiliar nessa tarefa incluem desde inovações simples, como o uso da biometria para registrar a frequência de funcionários numa empresa, até o registro dos gestos ao manusear o mouse. Por meio de recursos sofisticadíssimos tornou-se possível coletar dados com maior amplitude e profundidade, e realizar análises muito complexas com mais rapidez e, consequentemente, menor custo.

O trabalho da gestão de pessoas consiste em administrar o comportamento dos colaboradores, visando ao fortalecimento do capital humano das organizações, desde a identificação dos profissionais com as características de personalidade e competências requeridas, até a elaboração de programas de capacitação, promoção, treinamento e desenvolvimento. Não basta mais atrair e contratar bons profissionais, mas ser capaz de predizer o seu desempenho, formar boas equipes e reter talentos. Se, para o grande enxadrista Kasparov, o poder computacional era um temível adversário, agora ele se tornou um poderoso aliado nos mais variados contextos, inclusive na gestão de pessoas.

Os recursos tecnológicos hoje disponíveis permitem realizar recrutamento preditivo com boa fidelidade e precisão, antecipando como o candidato irá se comportar e se relacionar com seus futuros pares, qual será o seu estilo de liderança e quais as tarefas com as quais irá se identificar. Conhecer objetivamente a motivação dos colaboradores por meio da quantificação dos comportamentos e preferências ao realizar o trabalho adquiriu valor estratégico.

Um leque de informações antes incomensurável pela sua complexidade, abrangência e especificidade, pode agora ser rapidamente analisado, permitindo que o processo de tomada de decisão seja mais ágil e melhor embasado. Não à toa, já é possível desenhar um mapa bastante povoado com empresas sólidas e respeitadas que fazem uso de recursos tecnológicos para, entre outras funções, automatizar tarefas mais simples, realizar recrutamentos preditivos, analisar comportamentos e análises de desempenho, a distância. A inteligência artificial chegou para aumentar ainda mais essas possibilidades.

Dispor de um banco de dados confiável sempre ajuda, mas a interpretação deles e a tomada de decisão com base neles ainda cabe ao ser humano. Uma boa sinergia entre precisão dos resultados obtidos por meio dos recursos tecnológicos e a percepção apurada e a ética do ser humano abrirá novas possibilidades para a gestão de pessoas. Bits e neurônios, uma parceria que veio para ficar.

(*) Giselle Mueller-Roger Welter é mestre em psicologia e sócia da RH99,
empresa especializada em soluções de TI para recursos humanos.