As cotações das criptomoedas entraram em uma forte trajetória de baixa. Na segunda-feira (9), o Bitcoin (BTC) rondou, pela primeira vez em dois anos, o nível de US$ 30 mil, recuperando-se posteriormente. Porém, a tendência segue sendo de queda.

Segundo a exchange CoinMarketCap, uma das mais relevantes do mercado, a baixa na manhã desta terça-feira (10) é de 5,14% em relação à véspera. A capitalização total do mercado estava em US$ 1,45 trilhão, baixa de 4,56% frente à da segunda-feira. A queda não se restringe ao Bitcoin. O Ethereum (ETH) também estava em baixa, com uma desvalorização de 1,3 por cento em 24 horas.

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Essa baixa pode ser explicada por dois motivos. As criptomoedas são ativos de risco. Ou seja, seus preços tendem a amplificar as alterações de humor dos investidores. Em momentos de otimismo, quando a maioria das cotações sobe, esses ativos costumam registrar as maiores altas. Em momentos de pessimismo, ocorre um movimento inverso.

As quedas das criptomoedas estão seguindo movimentos de outros ativos mais “tradicionais”. Por exemplo, há uma correlação elevada com o índice de ações Nasdaq, que também vem registrando fortes baixas. Na segunda-feira (9) ele fechou a 11.623 pontos, queda de 15,2% em 30 dias.

Isso está ocorrendo devido a um ajuste do mercado a juros mais elevados e liquidez mais estrita. Em momentos como esse, ativos mais dependentes de juros baixos desvalorizam. No caso das principais criptomoedas, esse movimento está sendo amplificado pela liquidez. Os criptoativos são muito negociados. Seu mercado funciona continuamente e é muito simples montar e desmontar estratégias tanto de alta quanto te baixa, pois as movimentações podem ser bastante rápidas.

O sentimento do mercado é de baixa. Nesta manhã, o índice de Medo e Cobiça (Fear and Greed Index) está em 10 pontos, menor avaliação em oito meses. Na avaliação de zero a 100, isso quer dizer Medo Extremo. Há um mês, a indicação era de Medo, com o índice a 34 pontos. Isso mostra a volatilidade das expectativas. A diferença entre o mercado de criptomoedas e os demais ativos é a facilidade maior para que essas alterações nas expectativas sejam traduzidas em oscilações de preços.

Esse movimento, que começou em meados de abril, se amplificou a partir da sexta-feira, quando o Bureau of Labor Statistics (BLS), autarquia americana semelhante ao IBGE, publicou a principal estatística de emprego dos Estados Unidos referente a abril, o nível de emprego não agrícola (“non-farm payroll”).

Esse é o principal indicador de uma das variáveis mais importantes da economia real. Os empresários relutam em demitir quando as coisas pioram, e depois hesitam em contratar quando sentem a recuperação da atividade, para não ter de elevar os custos cedo demais. Por isso, a movimentação do número de empregados é um indicador sólido do nível de atividade. E os números vieram acima do esperado.

Em abril, a economia americana abriu 428 mil vagas. A projeção era de um crescimento inferior a 400 mil vagas. Além da abertura de vagas, outros indicadores mostraram a resiliência da economia.

Um mercado de trabalho aquecido piora as expectativas a respeito da inflação. E, além dos números absolutos, o indicador mostra que a relação entre oferta e demanda de mão de obra segue longe do equilíbrio. Ou seja, há mais probabilidade de repasse desses custos para outros itens da economia americana. A consequência disso é que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, poderá ter de manter sua política monetária contracionista, visto que esse é o único instrumento para conter a inflação.

Taxas de juros mais altas prejudicam ativos mais voláteis, como as ações de empresas de tecnologia e as criptomoedas. Por isso, a trajetória de baixa deve seguir por mais tempo.