No início deste mês, a Biolab Famacêutica participou do congresso Brain, Behavior and Emotions, evento especializado em psiquiatria realizado em Gramado, na Serra Gaúcha. A empresa esperava cerca de 300 pessoas para um simpósio, mas o número subiu para 400 e ainda ficou gente do lado de fora da sala. A justificativa para a lotação começa pelo título do encontro: Sistema Endocanabinoide e Neurociência: Uma Atualização Sobre o Uso Terapêutido da Cannabis. Segundo o CEO da companhia, Cleiton Castro Marques, não parou por aí. “Havia cerca de 5 mil médicos no congresso, e pelo menos 1,5 mil foram ao nosso estande se cadastrar para receber mais informações”, disse o executivo à DINHEIRO.

Toda essa movimentação está ligada à entrada da Biolab no mercado de canabidiol, substância derivada da Cannabis sativa, a popular maconha ou cânhamo, que tem sido cada vez mais relevante no tratamento de certas doenças psiquiátricas. Reconhecida pela atuação no segmento de cardiologia, há dois anos a empresa passou a atuar com drogas para o sistema nervoso central (SNC). “E o canabidiol vem nessa linha”, afirmou Marques.

O interesse nesse campo já vem de pelo menos seis anos, o que faltava para avançar era um parceiro ideal, confiável, que garantisse a regularidade no abastecimento. “É uma droga de uso contínuo, não pode faltar”, disse o CEO da Biolab. A solução veio da Europa, pela junção com a Promediol, companhia suíça com subsidiária no Brasil que fornecerá o medicamento pronto. A Biolab fará promoção médica e colocará o produto nas farmácias por aqui. Em um segundo momento, receberá o óleo das plantas cultivadas na Suíça para processar e envasar em suas fábricas.

Felipe Rau

“Temos cerca de 85 mil farmácias no Brasil, e o potencial para esse produto não deve chegar a 4 mil” Cleiton Castro Marques CEO da Biolab.

DIFERENCIAL A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela liberação ou não desses produtos, já aprovou outros 15 medicamentos nessa categoria. Marques aponta como mais um diferencial do novo produto no mercado dos canabidiois as próprias credenciais da Biolab. A empresa completou 25 anos de existência no mês passado, tem três fábricas e dois centros de pesquisa (um deles no Canadá) e está investindo R$ 500 milhões em um novo complexo industrial que ficará pronto no final de 2023. Para o executivo, isso pode ajudar a mudar a desconfiança que ainda persiste em parte da classe médica quanto ao uso do canabidiol.

MERCADO O extrato de Cannabis sativa da Biolab chega ao mercado sob o nome de Promediol 50mg/mL, e vai custar em torno de R$ 600 o frasco de 10 mL, que pode durar 30 dias. No entanto, como alerta o CEO da farmacêutica, trata-se de uma sugestão, pois quem define as doses exatas é o médico responsável pelo tratamento. Essa referência de valor do novo medicamento acaba sendo restritiva e influencia até a estratégia de distribuição. “Temos cerca de 85 mil farmácias no Brasil, e o potencial para esse produto não deve chegar a 4 mil”, disse Marques.

Considerando o mercado de farmácias, o potencial de faturamento anual do segmento de canabidiol é estimado em R$ 50 milhões, conforme o CEO da Biolab. Somadas outras vias de importação, alcança R$ 150 milhões e em dois anos pode bater a marca de R$ 600 milhões. O segmento de drogas para o sistema nervoso central já representa 7% do faturamento da companhia e a previsão de Marques é que em três anos deve ir para 25%. E dentro dessa classe de medicamentos o canabidiol pode ocupar entre 7% e 10%. O que vai ditar o ritmo desse mercado de canabiol é a combinação da demanda com o avanço na distinção entre o remédio e a droga para o chamado uso recreativo, ainda ilegal no Brasil.