O ex-procurador-general dos Estados Unidos, Bill Barr, que renunciou ao cargo na segunda-feira, era um dos aliados mais fiéis de Donald Trump até cair em desgraça por não ter apoiado o republicano em suas tentativas desesperadas de não reconhecer sua derrota eleitoral.

Como costuma acontecer em seu governo, foi o próprio presidente que anunciou a notícia no Twitter, anexando a carta de renúncia de Barr.

“Bill vai embora pouco antes do Natal para passar as festas com sua família, o procurador-geral adjunto Jeff Rosen, uma pessoa incrível, vai substituí-lo”, escreveu Trump.

“Nossa relação tem sido muito boa”, e Barr “fez um trabalho excepcional”, acrescentou.

Há semanas corriam os rumores sobre a saída de Barr. Sua recusa a se somar às acusações de Trump sobre uma suposta fraude eleitoral na disputa presidencial provocou a ira do presidente republicano.

Os Departamentos de Segurança Interna e de Justiça “investigaram e, até o momento, não encontraram nada para apoiar” essas acusações, declarou o procurador-geral em 1º de dezembro.

Trump continua determinado a denunciar que foi vítima de roubo eleitoral e não reconhece sua derrota para Joe Biden. Seu entorno não conseguiu, porém, reunir provas de suas afirmações, e a Justiça indeferiu todos os recursos apresentados pela equipe do presidente contra o resultado das eleições.

O inquilino da Casa Branca também compartilhou nos últimos dias sua “grande decepção” por Barr não ter revelado, antes das eleições de novembro, a existência de uma investigação sobre a situação fiscal do filho de Joe Biden, Hunter.

– “Advogado do presidente” –

Até essa “decepção”, Barr foi um dos maiores defensores de Trump e da direita ultraconservadora no governo.

Este jurista de 70 anos foi um fervoroso partidário da administração presidencial, da pena de morte, ou do recurso à Polícia Federal para lidar com as manifestações contra a violência policial que abalaram o país em 2020.

Ao chegar à chefia do Departamento de Justiça em fevereiro de 2019, o fato de ter exercido o mesmo cargo no início dos anos 1990 era um sinal de solvência em uma administração repleta de novatos na política.

O aparente consenso em torno de sua nomeação não durou muito, e a oposição logo o apelidou de “o advogado do presidente”.

Entre outras coisas, os democratas acusaram-no de ter feito todo o possível para proteger Trump na investigação do procurador especial independente Robert Mueller sobre um possível conluio entre a Rússia e a equipe de campanha do candidato republicano em 2016.

Quando Trump alegou que o FBI havia aberto uma investigação sobre o caso por motivos políticos, Barr se somou às críticas contra a Polícia Federal e à possível “má-fé” de alguns agentes.

Segundo seus partidários, Barr, nascido em Nova York e formado pela prestigiosa Universidade de Columbia, não defendia Trump, mas sim o cargo de presidente.

O procurador-geral não deixou de denunciar a oposição democrata e a ala progressista por terem lançado, segundo ele, um “ataque sistemático contra as normas e o Estado de Direito”, sujeitando o presidente a um “assédio constante”.

Este católico praticante também lamentou um declínio dos valores religiosos nos Estados Unidos e uma “campanha” dos progressistas “para destruir a ordem moral tradicional”. Isso não o impediu de apoiar um presidente que se divorciou duas vezes, cujos comentários sexistas causaram escândalo em 2016.