Somadas, as cinco gigantes de tecnologia conhecidas pelo acrônimo Gafam (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft) chegaram à última semana do ano com valor de mercado de US$ 9,7 trilhões. Nesse ritmo, elas quebrarão a emblemática barreira dos US$ 10 trilhões em menos de 30 dias. Sozinhas, equivalem a 12% do PIB Global. Apenas as economias da China e dos Estados Unidos são maiores.

E o ciclo pandêmico de praticamente dois anos que transformou a economia do planeta em antes e depois da Covid se tornou, para elas, um espaço de oportunidade. “Quase dobramos o tamanho de nossa rede de atendimento desde o início da pandemia”, afirmou Andy Jassy, CEO da Amazon, em sua carta aos investidores. Entre o começo de março do ano passado e sexta-feira (17), os papéis da empresa subiram 74%.

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O ritmo impressionante foi acompanhado pelas demais. Na verdade, foi superado pelas demais. O Facebook, hoje sob o nome Meta Platforms, dobrou de tamanho: cresceu exatos 100%. A Microsoft cresceu 105%; o Google, 145%; e a Apple, 169%. Esta já se aproxima da casa dos US$ 3 trilhões de valor de mercado – está em US$ 2,808 trilhões, seguida por Microsoft (US$ 2,4 trilhões), Google (US$ 1,8 trilhão), Amazon (US$ 1,7 trilhão) e Facebook (US$ 928 bilhões). A empresa criada por Mark Zuckerberg, única ainda que não chegou ao seu trilhão em valor de mercado, é a caçula nessa corrida: tem apenas 17 anos de vida.

No caso do Facebook, por exemplo, as receitas saltaram 45% nos nove primeiros meses de 2021 contra o mesmo período de 2020. Somaram US$ 84 bilhões. Dá US$ 307 milhões a cada 24 horas, de segunda a segunda. Em reais, coisa de R$ 1,2 milhão por minuto. Cerca de 97% dessa dinheirama vem de publicidade, o que distorceu e reinventou – com o Google – o mercado global de mídia. E Zuckerberg não tira o pé do acelerador. O contrário.

Faz de tudo para manter a atração da audiência nas suas principais plataformas (Facebook, Instagram e WhatsApp). Os documentos vazados inicialmente pelo The Wall Street Journal revelam pesquisas internas que mostram o quanto as plataformas podem ser nocivas aos seus grupos de usuários, incluindo adolescentes, e mesmo assim nada é alterado. Como diz um entrevistado do documentário O Dilema das Redes (The Social Dilemma, 2020, dirigido por Jeff Orlowski, Netflix), “somente duas indústrias chamam seus clientes de usuários: a das drogas e a da tecnologia digital”.

O ano de 2021 ficará marcado como o do salto destas empresas para uma esfera de grandeza e valor nunca antes alcançada por outros segmentos econômicos da era moderna. Algo apenas comparável com as companhias marítimas colonizadoras dos séculos 16 e 17. O que deverá levar a um embate ainda maior com governos. A China, com sua estrutura política centralizada, lidera essa cruzada. A Europa e os Estados Unidos colocaram o tema em agendas prioritárias. Enfrentam basicamente três questões: o poder financeiro (o valor de mercado supera a economia da maioria absoluta dos países do mundo); o controle sobre legiões de usuários (o Facebook tem mais gente do que Índia e China juntos); a capilaridade como agente econômico (uma pessoa ou empresa excluída de uma rede social pode ser considerada morta, isso para não falar do poder potencial de uma moeda própria). Essa trinca estará no centro da pauta da tecnologia em 2022.