As imagens do caos no aeroporto de Cabul e dos talibãs patrulhando as ruas da capital afegã comoveram o mundo todo, mas o presidente dos Estados Unidos permanece em silêncio.

Nesta segunda-feira (16), a Casa Branca não incluiu nenhum evento público para Joe Biden, que está desde sexta-feira em Camp David, a residência de descanso dos presidentes americanos.

Seu assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan, prometeu na rede de televisão ABC que os americanos terão notícias de seu presidente “em breve”.

Enquanto isso, todos os jornais americanos, incluindo os que receberam com alívio sua eleição em novembro passado, falam de “desastre” (CNN) ou de um Biden “na defensiva” (Washington Post).

“Justo ou injusto, a história lembrará que Joe Biden foi quem presidiu a humilhante conclusão da experiência americana no Afeganistão”, após 20 anos de guerra, afirma o The New York Times.

Diante da onda de críticas nunca vista desde as eleições, a Casa Branca de Biden parece paralisada.

– Só em Camp David –

Isso é comprovado pelos tuítes transmitidos durante o fim de semana, enquanto os Estados Unidos acompanhavam o passo a passo da queda de Cabul e a imagem de helicópteros que saem da embaixada lembra as últimas imagens da guerra do Vietnã.

Em uma transmissão no domingo no Twitter, Biden estava sozinho em uma enorme mesa de reuniões de Camp David. Com uma camisa polo azul escuro, estava em frente a uma tela de videoconferência e a vários relógios de parede configurados em vários fusos horários, recebendo “atualizações” sobre o Afeganistão por parte de altos funcionários.

Na terça-feira 10 de agosto, o presidente democrata de 78 anos falou pela última vez em público, para dizer que não “lamentava” sua decisão de retirar os últimos soldados americanos do Afeganistão até 31 de agosto.

Na quinta e sexta-feira, enquanto o Talibã tomava o controle do Afeganisão a uma velocidade assustadora, a prioridade da Casa Branca ainda era exaltar o “plano Biden”, que supostamente reconstruiria a economia americana sobre uma base mais justa.

No sábado, Biden anunciou, em nota, que enviaria mais de 5.000 soldados a Cabul para assegurar a evacuação de civis. Depois anunciaria mais mil.

Sua presidência, até agora bastante controlada, com promessas de se dedicar às reformas econômicas e sociais “enfadonhas”, como disse o próprio Biden, foi de fato abalada.

No entanto, até o momento, nada arruinou o índice de popularidade firmemente ancorado acima dos 50%, nem mesmo o recente agravamento da pandemia de covid-19.

A semana passada deveria ter sido a de consagração dos esforços do presidente, um sábio veterano da política americana, por aprovar um gigantesco programa de infraestrutura com os votos de alguns senadores republicanos.

– Trump pede a renúncia de Biden –

A Casa Branca pretendia dedicar as próximas semanas a outro projeto faraônico, aplicando aos Estados Unidos algumas medidas do estado de bem-estar europeu, com mais apoio para gastos médicos e universitários.

Porém, o colapso do governo afegão e seu exército financiado por Washington rompe esta sequência bem preparada.

E o silêncio do presidente democrata diante da angústia de muitos civis afegãos contrasta com a imagem de homem compassivo que ele costuma cultivar.

A oposição republicana, até agora calada porque a opinião pública americana era majoritariamente favorável à retirada das tropas, se jogou contra o governo democrata pelo que considera uma humilhação para o exército americano.

O antecessor de Biden, o republicano Donald Trump, pediu sua renúncia, apesar de ter sido Trump quem decidiu a retirada definitiva das tropas americanas partir de 1º de maio de 2021, prazo prorrogado até 31 de agosto pelo governo democrata.

“O resultado no Afeganistão, incluindo a retirada, teria sido totalmente diferente se o governo Trump estivesse a cargo. A quem ou ao quê Joe Biden se renderá em seguida? Alguém deveria perguntar se é possível encontrá-lo”, afirmou o ex-presidente em nota nesta segunda-feira.