Para financiar seu ambicioso plano de infraestrutura, o presidente Joe Biden quer aumentar o imposto às empresas, uma medida que tem sido criticada pelo setor empresarial, mas não deveria afetar muitas empresas que se beneficiaram de cortes de impostos acentuados durante a era Trump.

Biden vai propor nesta quarta-feira(31) o investimento de cerca de 2 trilhões de dólares em oito anos nos setores de transportes, indústria e internet para melhorar a competitividade do país.

E conta com empresas para financiar essa iniciativa geral, com o aumento do imposto das empresas de 21% para 28%.

Seu antecessor, Donald Trump, baixou esse imposto de 35% para 21%.

De qualquer forma, as empresas sempre pagaram abaixo da taxa oficial, de acordo com um estudo recente divulgado por uma comissão do Congresso que mostrou que, antes da reforma de Trump, os pagamentos chegavam a 16% e depois ficavam em 8%.

Um imposto de renda corporativo de 28% continuaria entre os níveis mais baixos desde a Segunda Guerra Mundial.

Esse mecanismo tributário, em vigor nos Estados Unidos desde 2009, atingiu 52,80% em 1968, e depois caiu continuamente, exceto em 1993, quando passou de 34% para 35%, no início do mandato de Bill Clinton.

O nível que a Casa Branca chegaria colocaria os Estados Unidos em um dos patamares mais altos da OCDE, depois da França e Colômbia (32%), Austrália, México e Portugal (30%).

– Desacordo –

Alguns grupos empresariais já expressaram seu desacordo com a ideia.

A Câmara de Comércio dos Estados Unidos estimou que as propostas para financiar o plano de infraestrutura são “perigosamente equivocadas” e observou que um aumento de impostos diminuirá o ritmo de retomada “e tornará os Estados Unidos menos competitivos”.

A organização Business Roundtable, que reúne as maiores empresas do país, destacou se opor “fortemente” a qualquer aumento nos impostos e defendeu um modelo em que as despesas sejam financiadas pelos usuários da infraestrutura, alternativa que não satisfaz o governo, embora tenha sido mencionada semana passada pelo seu Ministro dos Transportes, Pete Buttigieg.

O Executivo espera desestimular a realocação da produção e empregos, e a evasão tributária, ao impor também uma alíquota mínima de 21% sobre o faturamento das empresas no exterior.

Também planeja eliminar subsídios às indústrias de petróleo e gás.

Esse conjunto de medidas tributárias deve permitir, segundo a Casa Branca, que o plano seja pago em 15 anos.

Para Dean Baker, economista do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), o aumento do imposto de renda empresarial “não é um salto para o desconhecido”.

“Os cortes de impostos por Trump não existem há décadas”, acrescentou.

Entre outras coisas, essas medidas do governo anterior tiveram de vir acompanhadas de um aumento significativo dos investimentos das empresas, o que não ocorreu, acrescentou.

“As multinacionais e seus acionistas se beneficiarão de uma infraestrutura melhorada, atualmente em declínio”, observou Chuck Marr, especialista em impostos do Centro para Orçamento e Prioridades Políticas (CBPP).

“Voltar atrás na grande redução de impostos decidida por Donald Trump para financiar grandes projetos é um bom negócio para a economia”, ressaltou o especialista, que citou como exemplo positivo os gastos planejados com pesquisas em semicondutores, componentes cuja escassez atinge as montadoras no Estados Unidos.

O aumento de impostos pode afetar os investimentos de empresas estrangeiras, que podem se voltar para outros países, reconhece Thornton Matheson, do Urban-Brookings Tax Policy Center.

Mas os Estados Unidos “continuam sendo uma economia grande e dinâmica que pode suportar uma taxa média de impostos um pouco mais alta do que os países menores”, resumiu.