Depois de décadas de amadorismo e desorganização, o esporte brasileiro vem tentando se modernizar, seguindo o modelo americano. Fundos de investimento assumiram o controle de times de futebol, grandes empresas substituíram os cartolas na organização de equipes olímpicas e grupos de mídia agora organizam campeonatos. Mas alguns setores, como o de seguros, permaneciam atrasados. A AON, segunda maior corretora do mundo, viu nisso uma oportunidade. Sob a direção de Marcus Vinicius Freire, que abocanhou uma medalha de bronze na Olimpíada de 1984, como atacante da seleção de vôlei, ela pretende oferecer apólices para garantir o pagamento de prêmios a atletas (o famoso ?bicho?), indenizações em caso de inatividade provocada por contusões e até pagamento aos times por perda de receita nos jogos, caso uma de suas estrelas fique muito tempo afastada dos estádios.

A AON, uma multinacional que fatura US$ 7,1 bilhões por ano, chegou ao País em 1997. Freire, que passou vinte anos nas quadras de vôlei, trabalha há dez com seguros. Mas só no ano passado conseguiu montar uma linha de produtos ligada a esporte. Através de parcerias com a Aliança do Brasil, Unibanco e Sul América, preparou as primeiras apólices que pretende lançar no mercado ? não sem antes armar uma rede de resseguro fora do País. Ele cria os contratos sob medida para cada tipo de evento, depois corre atrás dos clientes. Essa última etapa, por enquanto, é a mais difícil. A profissionalização do esporte nacional já facilita a aproximação, mas o bloqueio ainda é forte. ?Falta cultura. Tenho que mostrar que fazer um seguro barateia a operação e pode gerar lucros?, explica.

Uma isca para atrair os administradores será a cobertura para programas de incentivos. Por meio de uma engenharia financeira, o clube poderá reduzir o salário de jogadores e compensar a diferença oferecendo prêmios por desempenho. O produto está sendo negociado com o Vasco da Gama, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e a Zipnet. Os três vão premiar seus atletas que conquistarem medalhas na Olimpíada de Sydney ? e a lista já tem candidatos como os nadadores Fernando Scherer, o ?Xuxa?, e Gustavo Borges. A AON se compromete a pagar, por exemplo, os prêmios dos ?azarões? que ganharem medalhas, ou bancar a diferença caso um dos favoritos vença em mais modalidades do que o esperado.

Boa parte dos seguros criados por Freire ainda precisa de aprovação da Susep. Alguns, como o que protege contra acidentes com o público durante eventos, já são um sucesso ? o empresário Roberto Medina já o contratou para a terceira edição do Rock in Rio. Outros ainda não estão disponíveis, mas prometem. É o caso do seguro para executivos de clubes, que os cobre em caso de processos movidos por atletas ou outros dirigentes. Afinal, ainda há amadorismo suficiente para levar muita gente ao tribunal.