Quando o empresário Jeff Bezos, dono da Amazon, decide se aventurar em um novo mercado há duas certezas. A primeira é a de que ele não entra para brincar. A segunda é que o americano vai mexer profundamente com todo o setor. Isso ficou evidente quando Bezos comprou a Whole Foods por US$ 13,7 bilhões, em 2017. Agora, ele volta a carga com uma parceria com o Grupo Casino, na França, que poderá ter reflexos no varejo brasileiro. A gigante do comércio eletrônico passará a vender, dentro de sua loja virtual, produtos alimentícios da rede premium de supermercados Monoprix, uma das marcas da varejista francesa.

Jean-Charles Naouri, CEO do Casino: “Graças a essa parceria entre a Amazon e o Monoprix, o Grupo Casino se aproxima das necessidades dos clientes” (Crédito:AFP Photo / Eric Piermont)

Assim que a parceria foi divulgada teve início uma série de rumores de que o acordo poderia se estender para outras regiões em que as duas empresas operam. O Brasil estaria no topo da lista de prováveis destinos: o Casino controla o Grupo Pão de Açúcar (GPA) e a Amazon tem dado passos cada vez mais seguros para crescer dentro do território nacional. “Dada à posição do Casino de acionista controlador da rede Éxito na Colômbia e do GPA no Brasil, os investidores devem começar a considerar uma extensão desse acordo para essas regiões”, escreveram em relatório analistas do Credit Suisse.

O banco suíço não foi o único a avaliar a parceria na França como um sinal de que um movimento semelhante poderia ocorrer no Brasil. Analistas e consultores são unânimes em afirmar que a sociedade entre o GPA e a Amazon faria todo sentido no mercado brasileiro, considerando a necessidade do primeiro de ampliar sua estratégia digital e da empresa de Bezos em aumentar sua projeção na região. “Seria uma combinação virtuosa para os dois”, afirma Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral do Grupo GS & Gouvêa de Souza. Além disso, a Amazon começou, recentemente, a acelerar sua expansão no País, o que torna mais provável um entendimento entre elas. A companhia, que até o momento opera no Brasil apenas pelo modelo de marketplace, no qual vende produtos de terceiros em seu site, está prestes a montar sua operação própria de distribuição e logística para itens vendidos diretamente por ela, conforme antecipou DINHEIRO na edição 1057, de fevereiro deste ano.

Expansão: acordo com Casino aumenta a presença da Amazon no varejo de alimentos (Crédito:David Ryder/Getty Images/AFP)

Agora, em abril, a Amazon definirá o local onde será instalado o seu centro de distribuição. A ideia é que o espaço consiga comportar a mesma automação que a empresa utiliza ao redor do mundo. Bezos tem obsessão por produtividade e sua empresa vai implementar esse conceito no mercado brasileiro. A companhia também está entrando em contato com os principais fornecedores de eletroeletrônicos do País para negociar o fornecimento de produtos para a venda direta. Além da parte logística, a Amazon está em busca de novo escritório para ampliar o número de funcionários no País.

As conversas entre Amazon e Casino não estariam restritas apenas à venda de alimentos. A possibilidade de a empresa de Bezos adquirir a Via Varejo, empresa do Grupo GPA e dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, ganhou força. O Casino colocou a operação à venda em 2016, mas ainda não achou um comprador. Para o JP Morgan, um acordo com a “Via Varejo é um potencial atalho para a expansão da Amazon no Brasil, particularmente por fornecer capacidades de atendimento que têm sido um problema central.” No entanto, Pedro Guasti, CEO da consultoria Ebit, especializada no setor de e-commerce, pondera. “A Amazon tem sido muito calculista no Brasil, fazendo os processos evoluírem de forma planejada.”

Na mira: cresceu a chance de a Via Varejo, dona da Casas Bahia, ser comprada pela Amazon (Crédito:Divulgação)

Os investidores mostraram otimismo com os negócios. As ações da Via Varejo e do GPA subiram 5,1% e 3,2%, respectivamente, na terça-feira 27, liderando as altas da B3, enquanto o Ibovespa caiu 1,5%. O Casino, porém, informou em comunicado que “nega qualquer parceria em relação à essa subsidiária” e que “o processo de venda da sua subsidiária Via Varejo continua no Brasil, mas sem nenhum novo elemento para ser reportado ao mercado”. A parceria entre os dois gigantes colocou fim a meses de especulação sobre qual seria a investida da Amazon na França, que começou a ser ventilada após a aquisição da Whole Foods.

A Amazon tem buscado formas de aumentar sua relevância global no varejo alimentício. Nos últimos anos, a gigante do comércio eletrônico deu alguns passos nessa direção. Em 2016, a companhia fechou parcerias com as redes Morrisons, do Reino Unido, e Dia, da Espanha, que passaram a vender seus produtos através do marketplace da empresa de Jeff Bezos. No ano seguinte, a Whole Foods, rede de supermercados dos EUA, foi adquirida. “Graças a essa parceria entre Amazon e Monoprix, o grupo Casino reforça sua estratégia de distribuição omnichannel e se aproxima ainda mais das necessidades de seus consumidores”, afirmou Jean-Charles Naouri, CEO do grupo Casino, em nota oficial.