A perspectiva para novas sanções contra a Rússia parece próxima: Berlim e Paris denunciaram nesta quarta-feira (7) a “participação e responsabilidade” de Moscou no envenenamento por Novichok do opositor russo Alexei Navalny, alertando que propuseriam medidas concretas contra aquele país.

A advertência dos chanceleres Heiko Maas e Jean-Yves Le Drian foi anunciada após a confirmação pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) de que Navalny foi envenenado por um agente neuro-tóxico do mesmo tipo que Novichok, uma substância desenvolvida por cientistas soviéticos para fins militares.

Em sua opinião, “nenhuma explicação credível foi fornecida (no momento) pela Rússia” e, neste contexto, não há outra explicação plausível para o envenenamento do opositor do que “responsabilidade e envolvimento da Rússia”, afirmam os chanceleres em um declaração conjunta.

Assim, irão apresentar aos parceiros europeus propostas de sanções dirigidas a pessoas consideradas “responsáveis por este crime e violação das normas internacionais, devido às suas funções oficiais, e a uma entidade envolvida no programa Novichok”.

Sem a colaboração de Moscou, “não haverá outra solução que uma resposta internacional clara e inequívoca”, ressaltou o ministro alemão aos deputados do Bundestag, especificando não tratar-se “em nenhum caso de um conflito bilateral russo-alemão”.

Berlim, no entanto, parece descartar o cenário de congelamento do polêmico projeto do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Europa, do qual a Alemanha é o principal nome a promover, e é favorável a medidas individuais dirigidas a personalidades russas.

A Rússia classificou as acusações de “inaceitáveis”.

“Em vez de cooperar como esperado com a Federação Russa para esclarecer as circunstâncias do que aconteceu com aquele blogueiro, os governos alemão e francês se voltaram para ameaças e tentativas de chantagem contra nós”, declarou a diplomacia russa em uma afirmação.

– Elite “que assassina” –

Crítico ao governo de Vladimir Putin, Navalny, de 44 anos, ficou gravemente doente em 20 de agosto, quando estava em um avião na Sibéria, enquanto fazia campanha para os opositores por causa das eleições locais e regionais.

Depois de ser tratado por alguns dias em um hospital siberiano, foi transferido para outro em Berlim e continua sendo tratado na capital alemã.

O opositor russo acusou diretamente Putin de estar por trás de seu envenenamento, uma acusação rejeitada por Moscou, que a considera “inaceitável”.

Em 2018, o Novichok já havia sido usado para envenenar o ex-espião Sergei Skripal e sua filha Iulia na Inglaterra, gerando uma crise diplomática internacional com Moscou.

Em entrevista ao jornal alemão Bild, Navalny pediu aos europeus nesta quarta-feira que sancionassem diretamente pessoas próximas a Putin, principalmente proibindo-as de acessar e permanecer em seus territórios.

“As sanções contra todo o país não funcionam. O mais importante é proibir a permanência aos beneficiários do regime e congelar seus bens. Os oligarcas e altos funcionários, o círculo mais estreito de Putin”, declarou.

Em sua opinião, os integrantes dessa elite são aqueles que “matam pessoas porque querem permanecer no poder”.

A Rússia está sob um regime de sanções da UE desde 2014, em resposta à anexação da Crimeia.

Berlim, por outro lado, tem seguido uma política de diálogo e parceria com Moscou por causa do projeto Nord Stream 2.

Este gasoduto abasteceria a Europa, particularmente a Alemanha, com gás russo.

O projeto de bilhões de euros também envolve outros países, como Áustria e Holanda, e mais de 100 empresas europeias.