A Copa do Mundo de 2014 pode não ter deixado saudade nos brasileiros, que jamais esquecerão a goleada de 7 a 1 sofrida para a Alemanha. Mas há pelo menos um grupo de empresários que recordam aquele ano como um marco nos negócios: é o de exportadores de espumantes. Graças a uma lição aprendida em 2010 na África do Sul, quando os produtos do país-sede da Copa bateram recordes de exportação, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) criou uma estratégia de ampliação da presença de marcas nacionais nas redes de varejo do mundo todo. “O Brasil entrou na moda e aquela onda deu uma visibilidade grande para o espumante brasileiro”, afirma Diego Bertolini, gerente de promoção do Ibravin. O resultado foi um recorde de vendas para o exterior, com 425.335 litros da bebida comercializados de janeiro a dezembro de 2014. No ano anterior, as exportações haviam sido de 214.701 litros (leia os dados ano a ano no gráfico ao lado). A curiosidade do mercado internacional pelo nosso espumante, porém, logo evaporou. “Como era um impulso de compra momentâneo, não conseguimos consolidar a comercialização”, diz Bertolini.

O resultado foi que a espuma não só baixou como as vendas despencaram: em 2016, o Brasil exportou pouco mais de 145 mil litros de espumantes. A ressaca levou o setor a repensar sua estratégia. Uma nova e borbulhante abordagem ganhou corpo no início do mês, em Nova York, com a participação brasileira em três eventos relevantes para o mundo do vinho: a Vinexpo NY 2019 (que reuniu um público de 3 mil pessoas do mercado); o 10th Annual NYC Winter Wine Festival (com 2 mil consumidores finais); e uma masterclass no Playstation Theater, na Broadway, voltada para importadores, distribuidores, sommeliers e profissionais da imprensa. Realizada em parceria com o Consulado de Nova York, a masterclass ficou a cargo de Susannah Gold, Relações Públicas da iniciativa Wines of Brasil nos EUA, e teve a participação das vinícolas Miolo, Peterlongo e Salton.

Para brindar: estande brasileiro em feira de vinhos de Nova York (à esq.) e Diego Bertolini, do Ibravin: China e Alemanha são os próximos alvos (Crédito:Divulgação)

A ação, coordenada pelo Ibravin e com apoio Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), lançou também a assinatura da campanha que pretende fazer do espumante brasileiro uma referência da bebida entre os produtores do Novo Mundo: “A Sparkling New World”. Para o gerente de exportações da Miolo, Anderson Tirloni, esse tipo de ativação é extremamente importante por permitir que o consumidor final conheça as qualidades do espumante brasileiro. Pioneira na prospecção do mercado norte-americano, a vinícola aposta no rótulo Cuvée Tradition, comercializado nos EUA
a US$ 15, para ampliar as vendas ao exterior. “É um espumante que vem fazendo sucesso inclusive na França”, afirma Tirloni. A meta da Miolo é elevar as exportações em 50% este ano sobre 2018.

ESCRITÓRIO NA CHINA Aproveitar as oportunidades do mercado americano, cujo gosto se encaixa no perfil de parte da produção brasileira, é um item fundamental no esforço para consolidar o posicionamento internacional do Brasil nessa categoria. Mas conquistar a América não é o único desafio. Ainda este mês, o espumante brasileiro terá espaço na China Food and Drinks Fair e na ProWein Düsseldorf 2019, uma das mais importantes do setor na Alemanha. “As feiras podem até não trazer um resultado imediato para o produtor que pretende exportar, mas têm um papel importante em termos de imagem”, afirma Bertolini. Hoje, produtores brasileiros sabem da importância de manter escritórios nos mercados onde pretendem crescer. A Aurora possui funcionários em Xangai e a Salton mantém um escritório em Nova York. “Este ano eu tenho a convicção de que, em valor exportado, o crescimento será de 30%”, afirma o representante do Ibravin.

Pesa nessa previsão tanto a já reconhecida qualidade do espumante nacional (o brut Cave Geisse, por exemplo, obteve 18 pontos em 20 possíveis na avaliação da exigente crítica britânica Jancis Robinson) como também a variedade de estilos da bebida produzida no País. Enquanto o chinês prefere nosso moscatel, mais adocicado, o nova-iorquino aprecia o frescor e a acidez do espumante produzido pelo método charmat, que utiliza tanques de aço inox pressurizados. Já para seduzir o europeu, mais familiarizado com o champanhe, a aposta é nos espumantes cuja segunda fermentação ocorre na própria garrafa (método tradicional ou champenoise). Essa variedade de estilos, somada ao preço acessível, faz com que até os vizinhos do Cone Sul tenham se convertido em fãs do espumante nacional. Hoje, por incrível que pareça, o maior mercado da bebida brasileira é o Chile, justamente o país que mais exporta tintos para o Brasil.