Na noite do último dia 21, um discreto encontro nos jardins de uma casa do Lago Sul de Brasília reuniu brigadeiros da Aeronáutica, comandantes da Polícias Federal e Rodoviária e o secretário do Comércio Exterior, Roberto Gianetti da Fonseca. Quem observava os convivas poderia ter uma boa pista do que passava pela cabeça do anfitrião da festa, o texano John Murphey. O presidente mundial da canadense Bell Helicopter Textron, a maior fabricante de helicópteros do mundo, aproveitava a comemoração do primeiro escritório da multinacional no Brasil para se aproximar do seu cliente mais promissor: o governo brasileiro. Murphey quer, com isso, deixar de comer poeira nessa área para concorrentes como a francesa Eurocopter. E, claro, aumentar sua participação de 65% do mercado brasileiro, o segundo maior consumidor do mundo dessas aeronaves depois dos Estados Unidos.

Por isso, abrir um escritório em uma casa em Brasília tem lógica. ?Aqui temos a possibilidade de nos aproximar de pessoas que têm influência nesse mercado?, diz Murphey, que dedicou a sua segunda visita ao Brasil na semana à conversas com gente do Exército, da Aeronáutica e das Polícias Federal e Rodoviária. Para todos, Murphey fez questão de dizer que a Bell continua sendo representada no Brasil, como acontece desde 1984, pela mineira Líder Táxi Aéreo, a maior empresa de aviação executiva do País. ?O escritório vai dar suporte técnico e de marketing às operações da Líder?, repetiu ele nos encontros.

Mas os planos da empresa vão além. A multinacional pretende abrir uma linha de montagem de helicópteros no Brasil e está conversando com autoridades para decidir o local, disse Murphey a DINHEIRO. O negócio, que pode ser de US$ 15 milhões, deverá ser feito em parceria com a Líder. Horas antes do coquetel da segunda-feira, Murphey tratou do assunto com o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, em um almoço no escritório da Líder em Brasília, também localizado em uma casa de frente ao lago Paranoá. Roriz, que chegou em um helicóptero da marca Bell, colocou na mesa as vantagens da instalação da fábrica na região.

A linha de montagem é apenas outro item na lista dos planos da Bell ? que no ano passado enfrentou problemas no País, depois do acidente com um Bell 407 que provocou a morte da presidente do Banco Rural, Júnia Rabelo, e a perda temporária do certificado de aeronavegabilidade de todos os helicópteros desse modelo pelo Departamento de Aviação Civil. Entre os novos planos, está uma parceria com a brasileira Embraer. As duas fabricantes estão negociando um acordo de troca de tecnologias. Murphey confirmou as conversas, mas não quis dar detalhes. Discreto, ele apenas diz que o Brasil vai ajudar a empresa a manter a liderança mundial nesse mercado. Tem lógica. Em um mercado pequeno ? 13 mil aeronaves circulam no mundo ? e competitivo, o Brasil cresce a taxas de 8% ao ano, o dobro do resto do planeta. As próximas compras do governo vão mostrar a eficiência da tática da Bell.