O uso de substâncias ilícitas, bem como de álcool, não interfere na resposta imunológica de qualquer vacina contra a Covid-19. Embora dependentes químicos sejam considerados grupo de risco, o consumo de entorpecentes não deve em qualquer circunstância servir de motivo para evitar a vacinação.

“Não há nenhuma intereferência de ingestão de álcool ou eventual uso de drogas ilícitas com a resposta imunológica da vacina, antes, durante ou depois da aplicação da vacina. Não há nenhum cuidado ou restrição. Isso não interfere em nada na resposta vacinal nem nos efeitos colaterais”, afirma Renato Kfouri, infectologista diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) publicou um estudo científico em que afirma que dependentes químicos são muito mais vulneráveis para contrair a forma severa da Covid-19, que é a doença causada pelo novo coronavírus. Confirmam os dados outras pesquisas desenvolvidas pela Universidade de Oxford e pela Universidade do Texas. Paralelamente, o número de overdoses fatais por opioides (princípio ativo da heroína) aumentou durante toda a pandemia nos Estados Unidos.

Com isso, O Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIH, na sigla em inglês) lançou uma campanha em junho deste ano para convencer dependentes químicos a não deixarem de se vacinar. O órgão aponta que o histórico e a vulnerabilidade desse grupo social podem influenciar essas pessoas a não se vacinarem. Outra pesquisa estadunidense, conduzida pelo Fórum de Política de Dependência (APF, na sigla em inglês), indica que metade da população que é dependente química expressa desconfiança com o governo e com a vacinação.

“Dependentes químicos sempre são grupos de risco para qualquer doença. Entretanto, a gente sabe que alguns desses usuários vivem em condições precárias. Pedir para uma pessoa em situação de rua evitar aglomeração é mais difícil, mas é o que a gente tem. Essas pessoas precisam tomar a vacina da mesma maneira”, explica Jan Carlo Delorenzi, farmacêutico, imunologista e diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde do Mackenzie.

Drogas podem agravar eventuais sequelas
A ciência ainda não identificou todas as partes do organismo humano que podem ser afetadas pelo coronavírus. As sequelas da Covid-19 manifestam-se de inúmeras maneiras, então não é possível saber qual substância ilícita pode catalisar uma severidade pós-infecção. É importante ressaltar que o uso recreativo de drogas não vai causar, em teoria, nenhuma sequela pós-covid específica, mas pode agravar possíveis reações.

“Reações adversas podem sim ser agravadas por alguma substância. Teríamos que fazer um estudo droga a droga pegando possíveis impactos porque não se sabe onde o coronavírus vai atuar. Há relatos de síndrome pós-covid relacionados até a problemas oculares”, diz Delorenzi.

A loteria de sequelas da Covid-19 segue sendo alvo de estudos científicos. Neste sentido, o consumo de cocaína, estimulante do sistema nervoso central que aumenta a frequência cardíaca, poderia comprometer um paciente que desenvolva algum problema de circulação decorrente da Covid. O mesmo vale para o crack e clorofórmio em relação ao pulmão.

Assim, as recomendações de saúde contra covid-19 para dependentes químicos é: evite aglomeração, use máscara, higienize as mãos e, principalmente, vacine-se! Quanto mais vacinados, menor a chance de qualquer grupo social mais ou menos vulnerável contrair a doença.

“A aplicação da vacina de forma mais universal auxilia e permite que quem não pode tomar a vacina, por qualquer motivo ou ainda não tomou, seja contaminado porque reduz a transmissibilidade do vírus em uma determinada população”, finaliza Delorenzi.