A força das marcas e a grande capacidade de geração de caixa vêm atraindo cada vez mais os investidores brasileiros para os papéis das bigtechs negociados na bolsa brasileira, os chamados BDRs do inglês para Brazilian Depositary Receipts. Entre esses recibos de ações listadas no exterior e negociados no mercado brasileiro, o destaque fica para as gigantes da tecnologia como Apple, Facebook e Google, que estão no topo de um ranking de investimentos feito pela plataforma digital Dividendos.me baseado nos dados de janeiro de 2022 de seus 130 mil investidores.

Segundo o responsável pelas análises do aplicativo, Guilherme Gentile, mesmo não pagando rendimentos, essas empresas recompram seus papéis mais valorizados, o que funciona como um ganho. “Quando uma ação é recomprada ela gera mais valor para o acionista, porque não se pagam os impostos cobrados nos Estados Unidos para dividendos”, afirmou Gentile.

A sequência das techs entre os BDRs mais atraentes no ranking é quebrada apenas pela Walt Disney, que atua no ramo de mídia. A partir daí a lista traz a Tesla, do setor automotivo, e a varejista Amazon — ambas são também empresas de tecnologia intensiva —, Microsoft, Alibaba e Mercado Livre. A lista das dez mais é completada pela Coca-Cola. Essa preferência dos brasileiros por um segmento conhecido por não pagar ou pagar muito pouco dividendos surpreende. A Apple, por exemplo, oferece um retorno de dividendo (dividend yield) de 0,52% em 12 meses. E um retorno de recompra de 3,21%. Facebook e Google nem dividendos pagam, mas realizaram a recompra de suas ações com rendimentos, respectivamente, de 8,38% e 2,36%. Tesla, Amazon e Alibaba também não pagam dividendos. A Microsoft ofereceu 0,78% de dividend yield e recompra com retorno de 1,32%.

Segundo o especialista da Valor Investimentos, Virgilio Lage, os investimentos em BDRs estão em alta entre os brasileiros, porque é um jeito de se investir em empresas estrangeiras sem precisar sair do Brasil. Dentre essas companhias, as de tecnologia são escolhidas em função da grande geração de caixa. “O valor delas não está só no presente, mas no futuro. São ações que você compra esperando forte valorização”, afirmou. Para o especialista, também é um jeito de diversificar os investimentos, dolarizando o patrimônio e fugindo do risco Brasil. “Elas estão entre as maiores empresas do mundo. São de um setor que evolui rapidamente. Assim, o investidor dilui o risco”, disse.

TECNOLOGIA EM ALTA Guilherme Gentile, responsável pela analise na Dividendo.me, diz que hoje o acesso a investimentos como BDRs ficou mais facil e as bigtechs chamam atenção. (Crédito:Divulgação)

Gentile, da Dividendo.me, concorda com Lage e diz que nos dados dos usuários do aplicativo dá para ver essa evolução dos investidores buscando novos ativos. “Normalmente, ele começa a investir para reserva de emergência, depois vai para renda fixa e chega à renda variável”, disse. Na união de tudo, ele começa a perceber que a diversificação rentabiliza seus investimentos.

De acordo com dados da B3, o número de investidores com BDRs cresceu 151% em 2021, totalizando 306,1 mil pessoas. Em janeiro, houve nova alta de 6%, chegando a 325 mil pessoas. Esse público tem investidos cerca de R$ 23 bilhões nesses recibos. Ao comparar o número atual de aplicadores com o de outubro de 2020, mês em que os ativos foram liberados para todo o mercado, o crescimento ultrapassa a marca de 10.000%.

GANHOS MENORES Mas nem tudo são flores no caminho das bigtechs. Depois de vários anos de alta, agora os ganhos dessas companhias começam perder a força. O que pode ser percebido pela diferença dos principais índices das bolsas americanas. Em fevereiro, enquanto o S&P 500, que reúne as maiores empresas listadas nos Estados Unidos, acumulava desvalorização de 8% no ano, a Nasdaq, que é dominada por empresas de tecnologia, teve queda de quase 12%.

O cenário não deve mudar tão cedo, segundo analistas. Especialmente se houver enxugamento da liquidez em função da redução de estímulos do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Além disso, sempre voltam à cena ameaças a empresas como Facebook e Google, questionadas a respeito do uso dos dados. A Meta, dona do Facebook, viu as ações caírem 25% num dia, após anúncio de perda de usuários. Uma luz amarela que ainda não esfriou esse mercado no Brasil.