Por Francesco Canepa

FRANKFURT (Reuters) – Os bancos centrais globais continuaram a elevar as taxas de juros nesta quinta-feira, seguindo o Federal Reserve em uma luta contra a inflação que está enviando ondas de choque pelos mercados financeiros e pela economia.

O Japão, a exceção entre as principais economias desenvolvidas, manteve as taxas de juros inalteradas ​​nesta quinta-feira, apenas para ser punido quando operadores derrubaram o iene para uma mínima recorde em relação ao dólar –o que levou à primeira intervenção cambial das autoridades japonesas desde 1998.

Foi um sinal potencial de um ajuste maciço que está por vir, à medida que o mundo se adapta à alta das taxas de juros dos EUA para níveis não vistos desde a crise financeira global de 15 anos atrás, que levou o Fed a reduzir sua taxa básica para zero e desencadear rodadas enormes de compra de títulos.

Essa era de liquidez barata, que continuou durante o pior momento da pandemia de coronavírus e até que a inflação se tornou um risco proeminente, agora está prestes a terminar.

Os juros dos EUA e o dólar servem como pontos de referência para os custos de empréstimos em todo o mundo, e as autoridades do Fed agora sinalizaram não apenas planos de continuar a apertar a política monetária, mas de mantê-la restritiva pelos próximos anos, no que pode significar, para muitos países, um novo choque financeiro –e uma ampla reprecificação de títulos, ações e outros instrumentos financeiros.

“Intervir nos mercados tende a resultar em… resultados econômicos menos ótimos do que resultaria de outra forma”, escreveu o economista-chefe da RSM, Joe Brusuelas, após a ação do Japão. “Mas o atual choque inflacionário pode superar essa relutância. Podemos estar entrando em uma era de intervenção nos mercados de câmbio.”

Autoridades do Tesouro dos EUA, que monitoram de perto as políticas cambiais globais em busca de sinais de que países estão intervindo nas moedas para obter vantagem, tomaram nota da decisão do Japão nesta quinta-feira como um esforço para “reduzir a recente volatilidade elevada” do iene, mas não chegaram a endossá-la.

O chair do Fed, Jerome Powell, questionado sobre os riscos de os principais bancos centrais mudarem a política monetária em uníssono, disse que, embora o Fed tente estimar o impacto dos “reflexos” de política monetária entre os países, ele e seus colegas precisam permanecer focados nas condições econômicas locais.

As ações do Fed, juntamente com as de outros grandes bancos centrais, formaram o pano de fundo para alertas antecipados de autoridades e analistas internacionais de que o aumento do valor de moedas como o dólar e o euro poderia apertar tanto as condições financeiras globais que levaria a uma recessão mundial.

O Fed disse esperar que a economia desacelere e o desemprego suba a um grau historicamente associado a uma recessão –uma perspectiva cada vez maior também na zona do euro e vista como altamente provável no Reino Unido.

O Banco da Inglaterra elevou os juros nesta quinta-feira e disse que continuará a “responder com força, conforme necessário”, à inflação, apesar de a economia britânica poder entrar em recessão.

“Para os mutuários, isso significará custos significativamente mais altos novamente e ainda sem controle real sobre o aumento do custo de vida”, disse Emma-Lou Montgomery, diretora associada da Fidelity International.

Os participantes do mercado também aumentaram suas expectativas para o aperto do Banco Central Europeu, que deve subir seus juros novamente em 23 de outubro. Agora, espera-se que o BCE eleve sua própria taxa básica de 0,75% agora para quase 3% no próximo ano.

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